04 de setembro de 2012 |
N° 17182
CLÁUDIO MORENO
Educadores em crise
Quando assistimos, assustados, ao
declínio de nossos índices educacionais, quando ministros e pedagogos batem
cabeça, perplexos, perguntando-se o que fazer, alguém deveria dar a eles o
mesmo conselho que os sábios africanos dão a quem perde o rumo na imensa savana
da vida: “Se você não sabe para onde está indo, olhe para trás e veja, ao
menos, de onde você veio”.
Parece que uma perigosa amnésia
veio se instalar aqui, na terra de Peri e de Ceci: é como se uma pequena
parcela da Humanidade – justamente nós, os brasileiros! – tivesse esquecido a
maneira de fazer aquilo que o homem vem fazendo há milênios: apresentar às
novas gerações a complexa rede de estruturas artísticas, linguísticas,
científicas, históricas, sociais e econômicas que constituem o mundo em que
vivemos, sobre o qual estas gerações vão atuar decisivamente, quando chegar sua
hora.
Para Hannah Arendt, sempre
citada, só a escola pode garantir esta continuidade essencial, esta transmissão
que os adultos precisam fazer aos que em breve vão ocupar o seu lugar.
Alguns teóricos (infelizmente,
muito populares por aqui) ficaram de tal maneira enfeitiçados pela ilusão
onipotente de formar um quimérico “homem novo” (conceito funesto, aliás,
compartilhado pelo Fascismo e pelo Comunismo, movimentos que a História
condenou) que passaram a defender e a aplicar princípios que contribuíram
decisivamente para a erosão da qualidade de nosso ensino.
E foi assim que, como reflexo de
um espelho deformante, o aluno passou a ser visto como uma minoria oprimida
pelos professores, os conteúdos passaram a ser vistos como dispensáveis, a
formação pedagógica passou a ser vista como mais importante para o professor do
que a especialização em sua disciplina específica – tudo, religiosamente tudo,
bem ao contrário do que se espera de uma escola verdadeiramente republicana. O
resultado está aí.
Na pregação de alguns desses
fundamentalistas, o ensino tradicional sempre foi acusado de ser uma forma
premeditada de eternizar as estruturas de poder. Está claro que não leram
Hannah Arendt, ou esqueceram aquilo que ela faz questão de lembrar: a verdadeira
educação é responsável tanto por conservar o mundo como também por
transformá-lo.
Só ela garante que as leis e
instituições políticas que nos regem não serão alteradas ao sabor das
circunstâncias ou do interesse imediato de alguns, mas por cidadãos que
compreenderam a complexidade da sociedade que pretendem melhorar. Se a escola
brasileira não corrigir o seu rumo e continuar a fugir desta responsabilidade,
como vem fazendo nos últimos cinquenta anos, podem ter certeza de que ainda
veremos coisa muito pior.
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