03
de setembro de 2012 | N° 17181
KLEDIR RAMIL
Plurals
Caros
cidadões. Tenho subido os degrais da escada da vida com umas séries de
dificuldades, por isso várias questães ficam martelando minha cabeça. Uma das
principals são as absurdas confusãos que fazem com nossa língua pátria na hora
de usar os plurals. São tantas equivocaçães que eu acho que deveria haver puniçãos
para os infratores. Multas, advertências. Quero ver se assim esses inútils vão
continuar cometendo infraçãos.
Comecei
a fazer anotaçãos e encontrei mais de mils equívocos em apenas um pequeno universo
linguístico observado. Os principals erros encontrados sãos as concordâncias
verbals e o emprego dos plurals.
Seriam
os cidadães brasileiros incapazs de aprender? Será que estamos precisando de
atendimentos especials? Seria o nosso lápi escolar feito de carbono radioativo,
com efeitos colaterals? Não sei, não sei. Já estou desconfiando de tudo.
Decidido
a levar adiante essas questãos, combinei um encontro com meu advogado num
desses bars que fica no topo de uns arranha-céis no centro da cidade. Cheguei
atrasado, pois alguém havia furado os pneis do meu carro.
Devem
ter sidos aqueles cãos de guarda do meu vizinho, uns animals terrívels. Pedimos
dois pastels e duas Pepses e ficamos ali, nóses os doises, discutindo o
problema. Ele acha que eu estou tendo visãos. Que isso é culpa dos stresseres
do dia a dia, típico de pessoas que vivem com os coraçãos disparados. Você também
acha que isso não passa de alucinaçãos? Pois não sãos alucinaçães. São coisas
reals.
Fiz
questão de levar o assunto até o fim e entrei com dois processos judicials. Um
por perdas, outro por danos. No dia da audiência, o juiz apontou para mim, com
seus dedos cheios de anels. O juiz é um sujeito singular, só fala no plural. O
plural majestático.
Pedi
então a Sua Excelência que me explicasse as leies da língua pátria. Ele
respondeu: “Os plurals são fácils: uma xícara, duas xícaras. Um pir, dois pires.
Um pão, dois pães. Uma mão, duas mães. Um mamão, dois mamães. Não tem erro. Os
bons e os maus, os bens e os mais”. E continuou: “A coisa é simple. Letra S no
final de uma palavra significa que ela não está no singular. Como é o nosso
caso. Nós nos chamamos Régis, somos um cara plural”.
Não
aguentei. Levantei e fui embora. Um Regi, dois Régis?!
Depois
dessa, decidi voltar a estudar o Portuguê. Ou será os Português?
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