terça-feira, 7 de agosto de 2012



07 de agosto de 2012 | N° 17154
ARTIGOS - Ricardo Silvestrini*

Musa de quê?

As musas são as nove filhas de Zeus com Mnemosine, a memória. Para cada uma, Zeus deu a incumbência de proteger uma arte ou ciência. Calíope, a poesia épica. Clio, a história. Erato, a poesia lírica. Euterpe, a música. Melpômene, a tragédia. Polímnia, a música sacra. Tália, a comédia. Terpsícore, a dança. Urânia, astronomia e astrologia.

Na Grécia antiga, às musas era atribuída a capacidade de inspirar a criação artística ou científica. Vários são os textos em que os poetas começam invocando as musas para que elas soprem a inspiração.

Assim, chega-se a esse uso da palavra musa como aquela que inspira, a musa inspiradora. Contudo, diferente do conceito etéreo, de entidade mítica dos gregos, a palavra foi sendo usada para designar mulheres bonitas, de carne e osso. Sim, as filhas de Zeus eram belas. Mas não só pelo físico.

Elas protegiam as artes e ciências. Protegiam o belo. Do uso passivo dos criadores, que agiam com o sopro das musas, passamos ao uso ativo. O criador age porque viu uma musa, uma bela mulher e, para ela, escreve algo – na maioria da vezes, nem tão inspirado. Saímos da arte para a cantada.

E, hoje, tempo em que os poetas estão em baixa, a musa vive sozinha. A palavra musa serve apenas para designar mulher bonita. O jargão goza de livre trânsito pela imprensa contemporânea brasileira. É a musa do tênis, a do atletismo, a da natação, a do futebol... e, pasmem, a da CPI!

Se pensarmos como a origem do termo grego, podemos dizer que uma musa estaria protegendo um esporte, o que, em certo sentido, exige tanto arte, no sentido de talento, como ciência, no sentido de técnica. Mas musa da CPI protege o quê? A corrupção, a roubalheira, a tentativa de suborno?

Usar o nome das musas em vão pode provocar a ira de Zeus.

*POETA

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