sexta-feira, 1 de outubro de 2010


ELIANE CANTANHÊDE

Xeretando

BRASÍLIA - Flagrado ao celular com o ministro Gilmar Mendes, supostamente para virar no tapetão um placar de 7 a 0 no Supremo, Serra provocou os jornalistas: "O que vocês estão xeretando?".

Pois é, xeretar faz parte da natureza do jornalismo (e do jornalista), e foi xeretando que a imprensa livre e crítica descobriu as maracutaias de Collor, a venda de votos da reeleição de FHC, o mensalão da era Lula e o festival de nepotismo, negociatas e caixinhas de Erenice, braço direito de Dilma.

Assim, o que impressiona na história é a sem cerimônia de Serra ao pedir para falar com o ministro e depois chamá-lo de "presidente", justamente em meio ao julgamento de uma ação proposta pelos adversários -contra a exigência de dois documentos para votar. É o cúmulo da imprudência e da arrogância. É por essas e outras que, na hora de arrancar, Serra engasga.

Aliás, quando duas rodadas do Datafolha acusaram uma nítida tendência de queda de Dilma, abrindo uma real perspectiva de segundo turno, os governistas reagiram à la PT, e a oposição, à la PSDB.

Um se rearticulou, neutralizou a boataria da internet contra Dilma e botou no colo dela as cúpulas evangélicas, que conduzem milhões de votos. O outro perdeu o prumo. Nem só por inocência ou por acaso.

Aécio Neves correu a se posicionar na "sucessão geracional" tucana, o que correspondeu a enterrar Serra (quase literalmente); o afilhado Gilberto Kassab (DEM) anunciou aumento da passagem de ônibus em São Paulo a quatro dias da eleição; Serra escorregou numa resposta sobre aposentadorias que deveria estar na ponta da língua.

Enfim, o telefonema a céu aberto para Gilmar Mendes apenas coroa o esforço antissegundo turno.

Escrevo antes do debate da TV Globo, mas não será surpresa se, no último e decisivo confronto, quem mais precisava brilhar esmaecer. Se isso ocorrer, a eleição acaba no domingo. A ver e conferir.

elianec@uol.com.br

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