01
de outubro de 2013 | N° 17570
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
Mas, porém, contudo,
todavia
Semana
passada o Informe Econômico nos informou que ano que vem Porto Alegre terá mais
um teatro. Localizado no terceiro andar do Praia de Belas Shopping, com 600
lugares, vista para o Guaíba e outras tantas regalias, benesses e tentações.
Aleluia, dirão atores, diretores, produtores e – espero – o público também.
Aleluia, digo eu. Com ressalvas, mas digo.
Mais
um teatro na cidade que eu escolhi para viver e trabalhar e que, naquela época
– início dos anos 1970 –, tinha quatro ou cinco salas – o São Pedro, devorado
pelos cupins e caindo aos pedaços; o Arena, recém-inaugurado ali no viaduto da
Borges; o Clube de Cultura, na Ramiro Barcellos; o Leopoldina e o Salão de Atos
da UFRGS, estes dois últimos inacessíveis aos grupos locais pelo tamanho e
preço do aluguel. Hoje, Porto Alegre tem mais de 30 teatros funcionando
regularmente. E agora vem a notícia de que ano que vem teremos mais um.
Mas
é preciso não esquecer os entretanto, porém, contudo, todavia e outras
conjunções adversativas. Um bom teatro não é uma fachada bonita, uma plateia
confortável, uma sala de espera bem decorada, um serviço de bar convidativo, um
ar condicionado adequado e uma acústica perfeita. Um bom teatro é aquele que
tem uma caixa cênica equipada para atender às necessidades técnicas dos
espetáculos ali apresentados (*). O que é uma caixa cênica?
O
palco, naturalmente, mas também a parte invisível, escondida por rotunda,
pernas e ciclorama. Esta parte, também chamada de coxias ou bastidores, é onde
acontece toda a operação de apoio à realização do espetáculo: a
contrarregragem, a ação dos maquinistas e o tráfego dos atores entre cena e
camarins.
Isto,
no sentido horizontal. No sentido vertical, temos o urdimento e o porão. E
ainda as bambolinas, os rompimentos, os refletores, o tangão, as varas, a
manobra, a varanda, os contrapesos, o alçapão, as quarteladas e mais dezenas de
equipamentos técnicos que dão sustentação à criatividade da cenografia, da iluminação
e da sonoplastia. Porque sem isso, gente, por mais pós-moderno que seja, o
espetáculo não se sustenta.
Por
isso é que um bom teatro não se limita a ser só fachada e conforto para o
público. É preciso também que haja condições para o espetáculo e conforto para
os atores. Por isso, senhores empresários engenheiros e arquitetos, cuidado com
o que vem por aí. E tenho dito.
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