09 de outubro de 2013 |
N° 17578
CARLOS GERBASE
Saudade replicante
Decidi sair d’Os Replicantes em
2002, depois de constatar, pela enésima vez, que havia certas
incompatibilidades entre fazer shows de madrugada e dar aula às 8 da manhã,
especialmente quando o show era em São Borja, e a aula, em Porto Alegre.
Mas uma parte de mim ficou na
banda e se recusava a sair da estrada. Durante um bom tempo, eu sonhei com as
viagens intermináveis, com os cheques sem fundo de produtores calhordas, com os
punks selvagens de Esteio e Cachoeirinha, com as fãs maravilhosas de Caxias (sim,
eu vi pelo menos três, perdidas naquela multidão de gringos), com o maior show
de rock de todos os tempos (assistido por sete pessoas na boate Kalahari, em
Charqueadas) e até com o bombo leguero que toquei em Palmeira das Missões.
Aí, os sonhos pararam, talvez
porque o meu inconsciente estivesse cansado de guitarras distorcidas, ou
suficientemente entorpecido pelos camarins enfumaçados. Acabou tudo. Ou não.
Chegou o ano de 2013, e eu percebi que Os Replicantes começaram no final de
1983, há exatos 30 anos, numa certa garagem da Marquês do Pombal.
Era preciso comemorar. Entrei em
contato com os Replicantes atuais (os irmãos Heinz, o Cleber e a Julia) e com
os aposentados (Wander Wildner e Luciana Tomasi) e marcamos um show no Opinião
para o começo de dezembro, com um repertório gigantesco (no momento, 37
músicas, mas periga aumentar) e espaço pra todo mundo comemorar nossa vitória
sobre aquele caçador de androides charmoso, mas incompetente.
Antes, porém, vou homenagear os
Replicantes no dia 27 de outubro, no bar Ocidente. Estarei sozinho no palco –
em estilo mezzo-punk, mezzo-karaokê –, interpretando novos arranjos para
clássicos da banda. Chamei o projeto de Destrua Você Mesmo, e ele existe graças
ao talento e à parceria de grandes músicos, que atenderam ao meu apelo e
fizeram versões personalíssimas de canções que têm minhas letras, para que eu
as reencontre e destrua mais uma vez.
Meu muito obrigado a Marcelo
Fornasier (4Nazzo), Régis San, Eduardo Norman, Ticiano Paludo, Marcelo Birck,
Murilo Biff, Castor Daudt, Léo Henkin, Frank Jorge, Augusto Stern (Babu) e
Haroldo Paraguassu, mais as duplas Flávio Santos (Flu)/Luciano Granja,
Nenung/Th Heinrich e Ricardo Cordeiro/Lúcio Dorfman.
Alguns deles eram bastante jovens
(ou nem tinham nascido) quando Os Replicantes compraram seus instrumentos na
esperança de aprender a tocar, outros já sabiam bastante sobre rock’n’roll e
nos ensinaram coisas importantes, mas creio que todos compartilham a ideia de
que a música é divertida demais para ser deixada apenas para os virtuoses. Meu
maior orgulho ainda é ouvir a seguinte frase: “Quando ouvi Replicantes pela
primeira vez, percebi que, se vocês tocavam, eu também podia tocar”.
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