14 de outubro de 2013 |
N° 17583
ARTIGOS - Paulo
Brossard*
Lembrando Raul Pilla
Faz alguns dias, o mundo inteiro
divulgou e comentou a vitória do partido União Democrata-Cristã (CDU), do qual
é líder a senhora Angela Merkel; um dos jornais que tenho sob os olhos, em meia
dúzia de palavras, resumiu o fato dizendo:
Alemanha elege Merkel pela
terceira vez, e me lembrei do deputado Raul Pilla, o incansável defensor do
sistema parlamentar de governo, e que, mercê de seu apostolado, chegou a contar
com o apoio da maioria da Câmara dos Deputados.
A lembrança não foi gratuita,
pois o ocorrido na Alemanha deixou transparecer de maneira objetiva uma das
superioridades do parlamentarismo com relação ao sistema presidencial. Neste,
no mesmo dia, o mesmo eleitorado, em regra, elege tanto o presidente da
República quanto o Congresso e pode ocorrer que o presidente eleito não venha a
contar com o apoio da maioria do Congresso, e durante o quadriênio os poderes
políticos por excelência, ambos de origem popular, podem viver em testilhas
permanentes, um puxando para o norte e outro para o sul; no caso do país que
tenha adotado o sistema parlamentar de governo, normalmente os evita ou supera.
O ocorrido na Alemanha ilustra a
hipótese; note-se que o eleitorado não elege o chanceler que conduzirá o
governo e a administração, mas o líder do partido mais numeroso tem assegurada
sua consagração como chefe do governo, pela circunstância de ele representar a
maioria. De uma forma simplificada, se pode dizer que à maioria compete
governar, enquanto fiscalizar cabe à minoria.
Abro um parêntese para trazer à
colação fato recente ocorrido na Itália. Como é sabido, a representação
parlamentar dos três maiores partidos poderia formar uma coligação que desse
estabilidade ao governo por ele constituído, mas o desacordo predominou e ficou
claro que nem uma nova eleição resolveria o dissenso; declarando que a nação
não podia continuar sem governo, e inexistindo precedente a respeito, usando de
poderes não expressos, mas imanentes ao seu cargo e à gravidade da situação, o
presidente da República escolheu personalidades expressivas de cada um dos três
maiores, e a singularidade da emergência e da judiciosa solução adotada pelo
presidente convalidou a construção e a Itália voltou a ter governo graças ao
engenho e arte do chefe do Estado.
Voltando ao tema, se no sistema
presidencialista o presidente tem dia certo para assumir e concluir seu
período, seja ele excelente ou desastroso, no sistema parlamentar não há prazo
certo para o mesmo fim, enquanto o primeiro-ministro contar com a maioria
parlamentar, ele continuará primeiro-ministro, no momento em que o apoio da
maioria lhe faltar, ele deixará o poder, a menos que o presidente se valha da
prerrogativa de dissolver a casa legislativa e convocar simultaneamente eleição
e, desse modo, o eleitorado resolverá o conflito.
Haveria muita coisa a dizer, mas,
se a história é longa, o espaço é curto, devo finalizar encarando apenas um
aspecto do problema, e que o leitor concordará com a lembrança de figura
modelar de homem público, em longos anos de atividade pública e fidelidade democrática.
*JURISTA, MINISTRO
APOSENTADO DO STF
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