11 de outubro de 2013 | N° 17580
DAVID COIMBRA
A
primavera e o celular
Agora o cancelamento de celular, internet e TV a cabo será
automático. É de lei. Você nem precisará falar com alguém da companhia, basta
teclar os números do cancelamento. Ótimo. Se bem que, confesso, sentia certo
prazer com a insistência do funcionário da empresa de celular, quando eu dizia
que queria cancelar a minha linha. Eles me queriam muito, lá naquela empresa de
celular. Por favor, não faça isso, não nos deixe, nós gostamos tanto de você e
do seu dinheiro. E eu de nariz empinado e braço cruzado, fazendo humpf.
Uma vez, liguei para uma empresa telefônica irritado com
algum serviço e anunciei que, em represália, queria cancelar meu contrato.
– Não quero mais! – disse. – Cancele já!
E a atendente, de pronto:
– Sim, senhor.
E cancelou! Sem nem tentar negociar nem nada. Fiquei sem
telefone! Eu não era importante para eles? Eles não argumentam com todo mundo?
Por que não comigo? Tive de ligar para eles instalarem meu telefone de novo.
Que humilhação. Aquela empresa telefônica acabou com a minha autoestima.
A primavera chegou atrasada. Chegou, exatamente, na
segunda-feira passada, 7 de outubro. Antes, era primaveril só no nome. Na
verdade, não passava de inverno tosco.
Vi quando a primavera fez sua entrada. Estava parado entre a
Ramiro e a Independência, e a primavera dobrou a esquina e deitou-se a um passo
da minha botina: era uma pétala de flor. Uma pétala de flor caída do nada e o
dia ameno. Muito poético. Primavera, óbvio.
Não sei de que flor era aquela pétala, não sou bom em tipos
de flores, só conheço as clássicas. Reconheço uma rosa, uma margarida ou um
cravo quando vejo um, e não muito mais do que isso. Também não sou bom em tipo
de passarinho, outro personagem da primavera. E olha que já tive dezenas de
passarinhos, no tempo em que era comum guardá-los em gaiola. Então, sei o que é
um canarinho, um pintassilgo, uma caturrita, um beija-flor.
Os clássicos. Carro, a mesma coisa. Só conheço carros que
nem existem mais, o Fusca, o Opala, a Kombi, o Corcel. Agora, entre carro,
passarinho e flor, preferiria saber mais sobre passarinho e flor, que são da
primavera. Carro, definitivamente, não é da primavera.
Mas que eu dizia mesmo? Ah, sim, que a primavera chegou
entre a Ramiro e a Independência, segunda passada, e é tão certo que era
primavera, que olhei para a galeria ali perto e vi uma garota de uns 18 anos se
espreguiçando. Gosto de ver mulheres se espreguiçando e, em geral, elas só
fazem isso em dias suaves, como são os dias da primavera.
Então, pensei: é primavera, certo que é. Mas, em
São Paulo e no Rio, uns mascarados quebram as coisas e em Goiânia professores
invadem plenários e tem gente falando na volta da Lei de Segurança Nacional. É
difícil escrever sobre a primavera neste país.
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