terça-feira, 8 de outubro de 2013



08 de outubro de 2013 | N° 17577 
DAVID COIMBRA

Como funciona o Grêmio

Nestes mais de 30 anos de trabalho como repórter, convivi e aprendi com alguns técnicos de futebol.

Bem, é verdade que um técnico de futebol em geral vai lhe ensinar só sobre futebol, mas, ora, você não vai terçar argumentos com ele sobre o existencialismo, não é?

Então, os técnicos. Você conversa com eles, observa o seu trabalho e compreende como a cabeça e o time deles funciona. Poderia citar dezenas, entre Tite, Zagallo, Zé Carlos e Celso Roth, mas vou pegar quatro mestres: Foguinho, Carlos Froner, Ênio Andrade e Felipão. Esses quatro montavam (no caso de Felipão, monta) times da mesma forma que Renato montou o Grêmio.

Vou fazer um resumo tosco do raciocínio deles. É assim:

1O objetivo de um time de futebol é fazer gol no adversário e impedir que o adversário faça gol. Certo.

2A goleira, como se diz aqui, ou meta ou baliza, como se diz no resto do Brasil, se situa na região central dos fundos do campo. Certíssimo.

3Logo, se você não quiser tomar gol, tem de evitar que o adversário carregue a bola para o centro da sua defesa. Óbvio.

Tiramos daí o fundamental: um time, quando se defende, tem de colocar o maior número de jogadores atrás da bola e no meio do campo defensivo. Se um jogador adversário toma a bola e vai para a ponta, deixe-o por lá. Lá ele não vai incomodar.

Ele pode ficar com a bola, sobretudo se ficar virado de frente para a linha lateral. O zagueiro tem apenas de cercá-lo, sem fazer falta. Tem de obstruir sua passagem e não permitir que ele mande a bola para a área. Mas, se por ventura ele mandar a bola para a área, tudo bem: lá estará a maioria do time para afastar a danada para distâncias menos ameaçadoras.

Portanto, aprenda. Não comigo, que sou um reles repórter. Com os mestres: um time, para se defender, tem de se fechar; para atacar, tem de se abrir.

Por que se abrir? Exatamente para abrir o adversário. Para atrair a marcação para os flancos e aliviar a zona decisiva do campo, que é o meio.

Observe como joga o Grêmio. Não quando o Grêmio está com a bola; quando o adversário retoma a bola. Os jogadores do Grêmio, todos, voltam correndo para o campo de defesa. Mas voltam PELO MEIO. Isso é importante. Não adianta nada voltar correndo pela linha lateral; se você estiver na ponta, volte correndo em diagonal, como fazem os juízes. As coisas não acontecem na lateral, as coisas acontecem NO MEIO.

O Grêmio está sendo bem sucedido porque bloqueia bem o meio da defesa, porque seus jogadores sabem o que fazer quando não estão com a bola. É simples. Mas funciona.

O cruzamento clássico

As coisas só vão acontecer na lateral, numa partida de futebol, quando um jogador conseguir ir ao fundo e, de lá, mandar a bola para a área. Isto é: quando um jogador fizer o cruzamento clássico; não o levantamento, como faz muito bem o Kleber, do Inter; não o chuveirinho, como faz não tão bem o Pará, do Grêmio.

Quando o jogador faz o cruzamento clássico, quando a bola vem de trás, o atacante fica de frente para ela e o defensor fica de costas.

É muito difícil concluir esse tipo de cruzamento. Muitas vezes há dois, três jogadores na frente da bola, e é preciso levantar a cabeça olhar para a área e enquadrar o corpo.

Valdomiro era especialista nessa tarefa. Garrincha também. Com a diferença de que Valdomiro cruzava por cima e Garrincha, em geral, por baixo.

Alex Telles sabe fazer isso. Outro dia, o Zini publicou uma estatística mostrando que Alex Telles fez 120 cruzamentos, 20 deles certos. Quer dizer: 20 que encontraram o atacante na área. É uma média excelente.

Uma média de Valdomiro. Em primeiro lugar, porque significa que Alex Telles tentou cruzar 120 vezes, algo raro, excepcional. Normalmente, os laterais nem vão ao fundo. Alex Telles vai, e de lá joga a bola saindo do goleiro e procurando a testa do centroavante.

Pena que quase nunca haja testa de centroavante por perto, o centroavante está na intermediária, voltando cansado da reposição defensiva. Nada no mundo é perfeito.

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