27
de outubro de 2013 | N° 17596
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Coitado do
homem
Um dos impasses masculinos no casamento é conciliar a
porção macho protetor e a porção criança feliz.
Porque
sua mulher ama quando você é adulto, seguro, firme, decidido, capaz de resolver
crises e contas, dar colo e acalmar, dizer que tudo vai dar certo com a voz
resoluta de radialista.
A
mulher ama e espera ser amada desse modo. Com alguém disposto a oferecer
segurança e sentido, com o peito maior do que o travesseiro, para aninhar e
resguardar cheiros e futuro. Com um homem que acaricie seus cabelos em
silêncio, sem que ela descubra o que ele está pensando.
Mas,
se o homem está feliz ao lado da mulher, será uma criança. Eis o grande
problema da dinâmica de casal: se a mulher faz o homem feliz, ele será uma
criança, daí é ela que ficará descontente. Parece que precisa deixar o homem
preocupado para ser feliz, mesmo que resulte na tristeza dele.
Homem
bom para a ala das noivas é melancólico, aborrecido, casmurro, fortaleza
enigmática, caixa com senha numérica e alfabética.
Já
um homem realizado é livre como um campo de futebol num dia ensolarado. Muda
seu riso, seu olhar brilha, seu rosto se amplia e se torna uma matraca.
Transforma-se num bobo carente, disposto a fazer troça de qualquer assunto. Não
leva coisa alguma a sério. Debochado, hiperativo, como se estivesse
arremessando aviãozinho ainda do fundo da sala de aula. Vai apertar, morder,
empurrar, beliscar, incomodar, perturbar, série de movimentos proibitivos da
fantasia feminina.
Nos
momentos de euforia do namoro, reproduz a descontração com seus amigos: em
especial na pelada e no boteco. Um churrasco entre barbados exemplifica sua
felicidade: os participantes só vão confidenciar bobagens e besteiras sobre
sexo e carreira. A frequência estará desembaraçada, ingênua, afeita a piadas,
gafes e fraquezas cômicas.
Homem
brinca de brigar, mulher quando briga não gosta de brincar, entende a
diferença? É um cacoete ancestral, egresso do jardim da infância. No recreio, o
homem fingia guerra com os colegas para mostrar apego. Por sua vez, a mulher se
divertia em montar casinha, em estabelecer ordem e hierarquia nas emoções e
afetos.
A
questão é que a mulher não ama quando seu marido se infantiliza, porém é quando
ele está mais à vontade. É quando ele verdadeiramente está amando. A mulher é
seduzida pela imagem do homem tenso e guardião, e não suporta o menino
enfeitiçado pelo encantamento da relação.
Na
realidade, a mulher se irrita quando sua companhia assume ares de palhaço, ou
de louco. Julga comportamentos hostis, que não inspiram nenhuma confiança.
Despreza essas demonstrações circenses de disputa. Tente derrubá-la na cama
fora do clima sexual, que ela ficará puta da vida.
Odeia
quando seu marido se mantém hipnotizado assistindo uma partida da Série C, ou
na medida em que inventa de jogar playstation e perde a hora ou ainda começa a
jogar bolinha dentro de casa e quebra objetos. Odeia sua birra e manha, seu
timbre de desenho animado, suas miradas tristonhas de chantagem.
A
mulher jamais vai nos entender. Portanto, você tem que alternar com sabedoria
os dois momentos. Este é o ponto delicado: encontrar a medida. Ser os dois ao
mesmo tempo sempre, e nunca exageradamente.
Nem
ser demais um, nem deixar de ser o outro.
Nem
ser pai demais da esposa, nem ser seu filho.
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