23
de outubro de 2013 | N° 17592
MARTHA
MEDEIROS
Excluída
AAna
me ligou no final da tarde de sexta: “E aí, você vem?”.
Eu
não fazia ideia sobre o que ela estava falando. Foi então que a Ana se deu
conta de que eu não estava no Facebook, portanto, não sabia da festa que a
turma havia armado. Como eu não havia me pronunciado, ela resolveu ligar para
saber se eu estava viva.
O
cerco está apertando. Antes, eu trocava e-mails com os amigos com uma certa
frequência, agora todos debandaram, só um ou outro lembra que eu não estou nas
redes sociais e faz a caridade de me manter informada sobre o que acontece no
universo.
Não
tenho vontade de ter perfil em lugar algum (e mesmo assim tenho, criados e
postados por pessoas que não sei quem são). Instagram, Twitter, WhatsApp, nada
disso me seduz, não conseguiria tempo para esse contato eletrizante. Ainda me
custa compreender pessoas que deixam o iPhone sobre a mesa do restaurante, que
precisam fotografar cada minuto vivido, que desmaiam quando esquecem o celular
em casa. Eu deveria ter me alistado na expedição de colonização de Marte, onde
certamente eu me sentiria menos deslocada do que aqui na Terra.
Mas
não me alistei, então terei que me ajustar à nova ordem social do meu planeta.
Óbvio
que a tecnologia não é a vilã da história, e sim o uso obsessivo que se faz
dela. Para quem tem autocontrole, esses gadgets são fascinantes por seu
dinamismo, modernidade, capacidade de agregação, de agilização de tarefas, e
ainda resolvem a questão do anonimato, com o qual ninguém mais quer lidar.
As
redes transformaram palco e plateia numa coisa só: todos são espectadores dos
outros e ao mesmo tempo possuem um holofote sobre si. Já que existir virou
sinônimo de “quantos me curtem”, a população mundial conseguiu um jeito de
ficar quite com o próprio ego.
É
muito provável que eu estivesse nas redes caso não escrevesse colunas em
jornais. Como tenho esse canal de expressão semanalmente, não me fazem falta
outros. Ou não faziam. Estou nesse impasse agora: devo mergulhar com mais
profundidade no mundo virtual?
Reconheço
três vantagens: acompanhar o que meus amigos andam tramando às minhas costas,
me atualizar com mais rapidez e oferecer aos meus leitores um perfil oficial.
Além de me sentir menos mumificada.
Será
isso que chamam de “se reinventar”?
Ando
cada vez mais próxima da filosofia budista, exalto a desaceleração, prezo uma
boa conversa, adoro ter tempo para meus livros, meu silêncio, minhas
caminhadas. Não sinto falta de saber mais, de ter mais acesso à informação, de
conhecer mais gente. Por outro lado, não quero me isolar dos amigos nem ficar
sem assunto com eles – e com o mundo.
Que
dúvida. Pela primeira vez, reflito sobre algo de que, numa era em que se debate
tudo, pouco se fala: o nosso direito de ser indiferente.
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