Jaime
Cimenti
Comédia noir de tirar o
fôlego
O
romance As sete vidas do amor marca a estreia da escritora italiana Carla
D’Alessio no Brasil. Ela nasceu em Caserta, em 1978, e já com o primeiro conto,
Formine, foi considerada uma revelação e incluída na prestigiada antologia
Ragazze che dovresti conoscere, dedicada a jovens autores italianos. Carla tem
trabalhado temas como a diferença entre gerações e a posição da mulher na
sociedade. Em As sete vidas, a narrativa começa com uma confissão a sete dias
da véspera do Natal.
Enquanto
relata seus pecados e insatisfações ao padre Dom Luigi, Ada se depara com o
olhar ambíguo de um persa preto aos pés do sacerdote. Os olhos verdes do felino
têm algo de diabólico e, talvez por isso, a tentação seja forte demais: o padre
ainda nem acabou de dar o velho sermão do tipo “o renascimento do Natal tem que
ser uma coisa interior” quando a mulher, uma pacífica professora aposentada
apaixonada por história da arte, sem pensar duas vezes, rouba-lhe o bicho. Os
renascimentos, como se vê, nem sempre são marcados pela passagem da estrela de
Belém.
Alguns
têm necessidade de chegar a cantos mais escuros, despertar antigos fantasmas e
precisam até de um gato roubado. Bemot, o gato quase falante, surrupiado da
sacristia, está fadado a assistir, achando graça, ao desenrolar e enrolar das
tramas da história. Nesse meio-tempo, os protagonistas - cada um a seu modo -
passam por situações difíceis e se veem forçadas a mergulhar nas águas frias e
profundas do passado para voltar à tona, finalmente livres, prontos para
enfrentar um novo começo.
É
bem o caso de Ada, que tenta gostar de si mesma, abandonando os anos de
descuido e indiferença que, até então, marcaram a sua vida. É também o caso de
Gilda, constantemente em busca de alguém que compense sua maternidade
fracassada e de Nina, que tem o corpo de uma atleta e os medos de uma
adolescente e, ainda, de Mara, advogada agressiva que, no entanto, tropeça no
amor.
A
fútil Bea e Zoja, a ucraniana que se mudou para a Itália tentando mudar de
vida, completam a galeria desta comédia noir tipicamente italiana, uma história
comovente e requintada que mostra que o amor, mesmo quando parece ter morrido,
acaba revelando suas sete vidas.
O
pano de fundo é a Nápoles alheia aos lugares-comuns e a narrativa, de tirar o
fôlego, apresenta muitas coincidências, gerações em conflito, aspectos
divertidos e até um certo amargor.
Bertrand Brasil, 378 páginas, tradução de Mario Fondelli, mdireto@record.com.br.
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