27
de outubro de 2013 | N° 17596
RAZÃO
OU EMOÇÃO
O QUE FAZ SEU BOLSO
DISPARAR
Um
dos estruturadores de uma nova disciplina, a neuroeconomia, Paul Zak – o Dr.
Love – discute em Porto Alegre as motivações de gastos e investimentos, assunto
que neste ano rendeu o Nobel de Economia a três pesquisadores americanos
Digamos
que você decida trocar de carro. Vai até uma concessionária e escolhe modelo e
cor que mais lhe agradam. As economias que você tem são suficientes para pagar
à vista, mas sua conta no banco vai ficar zerada. O vendedor lhe oferece,
então, uma proposta tentadora: parcelamento da compra com taxa de juro ínfima.
O que você faria? Quitaria a compra para fugir da cobrança extra ou parcelaria
para garantir algum resguardo financeiro em caso de imprevisto?
Qualquer
conclusão a que você tenha chegado não terá sido tão racional como parece.
Depende de cálculos financeiros, mas também da relação que você tem com
dinheiro e até dos seus hormônios. Pelo menos é o que defende o pesquisador
americano Paul Zak.
Ajudou
a criar uma nova disciplina – a neuroeconomia – e é conhecido como Dr. Love por
realçar o papel de uma substância identificada com o amor e a moral, a
ocitocina. Ele vem a Porto Alegre no dia 4 de novembro para falar sobre o tema
no Fronteiras do Pensamento (veja entrevista na página 6). Em seus estudos, Zak
tenta comprovar como a química cerebral define as relações de confiança na
sociedade e na economia.
– A
ocitocina nos diz quando confiar e quando desconfiar, quando gastar e quando
poupar – afirma o pesquisador.
Zak
ainda vai além: por estar mais presente no sexo feminino, o hormônio tornaria
as mulheres biologicamente mais generosas e confiáveis. Nos homens, a ação da
substância seria inibida pela alta presença de testosterona, deixando-os mais
propensos a correr riscos e fazer maus negócios.
Escolha
rápido
A
diferença de gêneros na tomada de decisão também é tema de pesquisas no Brasil.
Armando Freitas da Rocha, professor da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e coautor do livro Neuroeconomia e processo decisório: de que maneira
o cérebro toma decisões, realizou experiências no país e em Portugal com
economistas e operadores do mercado financeiro para identificar de que maneira
as escolhas eram processadas no cérebro. Profissionais de ambos os sexos e com
diferentes níveis de experiência foram submetidos a um jogo que simulava compra
e venda de ações na bolsa de valores enquanto eletrodos mapeavam o
funcionamento cerebral.
– Já
imaginávamos que homens e mulheres utilizavam diferentes partes do cérebro
quando estavam diante da incerteza, mas o que a experiência nos mostrou é que
mulheres se saem melhor em decisões de curto prazo: elas obtiveram mais lucro
quando o espaço de tempo era apertado. Conforme os testes iam avançando, os
resultados ficavam bastante semelhantes, demonstrando que no longo prazo não há
diferença de gêneros – conta Rocha.
A hipótese
do médico para explicar o resultado é biológica. Entre os mamíferos, a fêmea
geralmente é a responsável por proteger a prole. Como os filhotes não podem
ficar por muito tempo sozinhos, ela seria obrigada a tomar decisões rápidas
quando saía à procura de alimentos.
–
Ainda não se sabe exatamente de que maneira o cérebro opera, mas sabemos que o
ser humano é bem menos racional do que pensa que é. O levantamento dos dados se
processa na parte cerebral, mas a avaliação se dá no âmbito emocional – completa
o especialista em neurolinguística Fábio Theoto Rocha, que também coordenou a
pesquisa.
opção
racional, conclusão certa?
O
resultado é visto com ceticismo por Ana Meireles, agente no mercado de ações em
Porto Alegre. Tanto que costuma levar bastante tempo para fazer uma escolha.
Única mulher na empresa em que atua, conta que tem outras vantagens em relação
aos colegas, mas não a agilidade.
– O
ambiente real é bem diferente do laboratório. É difícil fazer uma comparação.
Mas tenho qualidades que me diferenciam como profissional, como qualquer uma da
equipe em que trabalho, independentemente do sexo – afirma.
Doutor
em Finanças Comportamentais, Jurandir Sell Macedo concorda que os aspectos
biológicos têm influência, mas ressalta que os fatores culturais tendem a
deixar a separação de gêneros mais difusa.
– Em
algumas situações, a biologia pode até preponderar na escolha, mas em geral é o
fator ambiental que define. É importante lembrar, no entanto, que decisão
racional não significa, necessariamente, decisão acertada.
Daqui
em diante, quando você estourar o limite do cartão de crédito já sabe: pode
colocar a culpa em seus hormônios. Ou pelo menos parte dela.
cadu.caldas@zerohora.com.br
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