01
de outubro de 2013 | N° 17570
EDITORIAIS
Corrupção e
impunidade
A
denúncia sobre o desvio de recursos do Bolsa-Família e sobre o pagamento
indevido de somas milionárias a servidores da Assembleia de Alagoas é exemplar
do que ocorre também em outros Estados. Delitos como os mostrados no domingo
pelo programa Fantástico repetem-se em todo o país, apenas com variações nos
detalhes das operações que levam à manipulação de recursos públicos.
O
caso abordado envolve funcionários do Legislativo que receberam contribuições
do Bolsa-Família e também são beneficiados com outros depósitos em suas contas,
em princípio sem explicação. O mistério é apenas aparente.
Os
indícios são do uso de pessoas modestas que, transformadas em laranjas de quem
ocupa o poder, viraram cúmplices da corrupção. E tudo isso acontece porque a
imprensa denunciará esse e outros casos, a polícia fará a sua parte como
investigadora, o Ministério Público acusará os envolvidos, mas, ao final, a
Justiça terá cumprido sua atribuição apenas parcialmente.
O
caminho para a impunidade é propiciado principalmente pelas limitações das
leis, que restringem as ações da Justiça, ou pela negligência do setor público,
que deveria ser o primeiro interessado em prevenir, punir e, se possível, ter
de volta o que foi desviado.
Análises
apressadas podem conduzir ao preconceito recorrente de que o Legislativo do
Estado nordestino e a quadrilha nele instalada são típicos daquela região do
país. Tais constatações não contribuem apenas para o fortalecimento de
estigmas, mas para a reafirmação de percepções perversas e ingênuas.
Os
atos criminosos são, na verdade, o retrato do setor público contaminado por
práticas desonestas que se disseminaram por todas as esferas de poder no
Brasil. Legislativos e setores do Executivo e do Judiciário de pequenos ou
grandes Estados já tiveram casos semelhantes, com diferenças apenas de
personagens, no número de envolvidos, na tática criminosa usada e nas cifras
desviadas.
Corrupção,
nepotismo e outros delitos são resultado da falta de controles, da
transparência ainda precária e da certeza da maioria dos envolvidos de que
dificilmente serão punidos.
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