Por
Mônica El Bayeh
12/10/2013
10h15
Todo coitadinho é meio
espertalhão.
Todo
mundo conhece um coitadinho. Nunca podem nada. Para eles tudo é muito difícil e
complicado, então nem tentam. Sempre sobra para quem? Para você. Ou para quem
estiver por perto. Coitadinhos são uma espécie de plantas parasitas. Ficam lá
na surdina. E vão sugando o trabalho, a energia, a boa vontade do outro.Se
contrariados mostram a força que têm. São fortes para gritar, reclamar, bater
porta. Costumam ser os primeiros dedos apontados para erros alheios. Acusam sem
piedade.
Não
há grande produtividade na vida dos coitadinhos. Nem muita criatividade também.
Funcionam em modo de espera. Uma espécie de repouso, stand by. O que esperam?
Talvez nem eles saibam.Tanto marasmo incomoda quem olha de fora. Triste ver uma
vida jovem desperdiçada dessa forma. Na aflição de ajudar damos palpites.
Questionamos. Insistimos. Coitadinhos se irritam. Se fosse gato veríamos seu
pelo eriçando pronto para o ataque.
Mas
é por pouco tempo. Rapidamente vai aparecer um protetor para concordar com ele
e discordar de você. Por traz de todo coitadinho há alguém que passa a mão na
sua cabeça e apoia seu dolce 'far-niente'. Pode procurar.
Alguém
que acha que errou em algum momento, de alguma forma. E que, por isso, criou
uma pessoa mais frágil que precisa ser protegida, poupada. De que? Da vida.
Porque vida dói. Se é mesmo culpado? Não. Ninguém é culpado pela vida de
ninguém. Vida é pessoal e intrasferível.
Coitadinhos,
geralmente, têm algum histórico de perdas. Não que sejam graves ou
insuperáveis. Eles é que sentem como se fossem. Sempre com o respaldo de alguém
para dizer: por isso que ele é assim. Deixa ele, coitado.
Levante
a mão quem nunca teve perdas. Tristezas, abandonos, decepções. E não estamos
aqui? Vida nunca é bem asfaltada. Para nenhum de nós. Vida é estrada
brasileira. Buracos enormes. Quebra molas mal feitos. E dói mesmo. Mas faz
parte. A vida bate dura no lombo da gente. Não há amortecedor que suavize o
baque. Quebra nossa suspensão. Nos deixa arriados de quatro no meio do caminho.
E não estamos todos aqui tentando de novo?
Pais,
mães, avós, cuidam como sabem e como podem. De acordo com o que receberam. Da
melhor forma que lhes é possível. Erraram? Claro. Nós erramos todos, pelo menos
umas dez vezes todos os dias, em tudo o que fazemos. Por que com filhos seria
diferente? Ao contrário. Aí é que a gente erra mais ainda. Eles costumam
sobreviver a isso. Nós sobrevivemos também.
Usar
erros do passado como desculpa para o presente? Esse é o grande erro. Remexer o
baú buscando justificativa, desculpas? Vida é um erro atrás do outro. Não para
sentar e carpir. Nem para se lamentar. Para entender, aceitar e prosseguir. A
vida é nossa. Não cabe deslocar responsabilidades. Sou responsável pelo que
decido pelo que faço e pelo que tento não assumir e jogar sorrateiramente para
cima dos outros. Vida é garrafa d água do lado do filtro. Abro e encho ou fico
com sede reclamando.
Coitadinhos
se sentem no lucro. Não deixa de ser. Afinal, nada fazem e tudo têm. Ninguém
cobra nada deles. Se acham uns espertalhões. Vivem sem esforço. Que nada. Não
há lucro em parasitar. É no embate do dia a dia que a gente aprende, se
fortalece e fica cascudo. Na dor da queda e no vento no rosto, se perceber em
pé de novo. Isso é vida.
Não
imagino o que pensa uma mãe passarinho quando enxota os filhotes para fora do
ninho. Mas se ela pensar muito e não jogar, como eles vão aprender a voar?
Deitados no conforto do ninho?
É
preciso ir além da zona de conforto. Experimentar, quebrar a cara, tentar de
novo. É isso que os coitadinhos não têm. Não saem do ninho. E o ninho dos
coitadinhos nem é a casa. É o quarto deles. É lá que costumam reinar. Pequenos
tiranos cheios de vontade. Não percebem que o mundo é mais do que quatro
paredes. Não falo de crianças. Falo de imaturos.
Por
trás de todo coitadinho tem um passarinho que entende suas dificuldades. Tem
muita pena dele. Repete sempre como ele teve uma história sofrida. E lhe traz
minhocas que lhe dá na boca. Uma mordomia para poucos. Ainda bem. Imagina um
mundo de coitadinhos?
Um
coitadinho nunca é tão incompetente quanto parece. Só desenvolveu a crença de
que não pode, não consegue. E a percepção falsamente esperta de que também não
precisa tentar, porque lucra mais desse jeito que está. Só que não. Todo
coitadinho é meio espertalhão.
É
preciso empurrar para fora do ninho. Mesmo que seja para voar junto, orientando
a direção. Ensinando os macetes. Sem desculpas, choramingos ou desistências. E
sem pena dos tombos que vai tomar. Quantos já não levamos?
Lucro
é ter asas fortes, com calos de tanto voar. E se ralar, se esfolar, perder penas.
Continuar sempre e mesmo assim. Ter coragem de ousar, ir além do visível.
Realizar desejos e buscar sonhos. E, mesmo quando tudo der errado, acreditar
que pode vencer. E seguir.
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