Jaime Cimenti
Mudança de
vida num piscar de olhos
O homem do bosque (Man in the woods, no original) é a
estreia literária no Brasil de Scott Spencer, nascido em Washington D.C. em
1945 e considerado pela crítica norte-americana um dos grandes escritores da
atualidade.
Spencer foi laureado com o John S. Gug-genheim Fellowship e
dois de seus romances foram adaptados para o cinema: Endless love e Waking the
dead. Jornalista, o autor escreve para publicações importantes, como Rolling
Stone, GQ e The New Yorker. Por fim, é professor de escrita criativa em
diversas universidades.
O homem do bosque narra a saga de Paul que, desde adolescente,
vive por conta própria, livre e independente. Não deve nada a ninguém, nada
teme e é guiado por um código moral bem particular. Trabalhou num barco de
pesca no Alasca, combateu incêndios florestais e colaborou na busca a um
sequestrador de Dakota do Sul. Paul chegou a pensar que nunca teria um norte,
que estava sempre ao sabor do vento.
Isso até conhecer a bela, amorosa e inteligente Kate Ellis e
sua filha Ruby. O convívio com as duas proporcionou a Paul uma vida com ordem e
regularidade, mas ele tinha convicções profundas e sente-se frustrado pelos
compromissos que assume para levar uma vida comum. Ao voltar para casa após ter
rejeitado o trabalho de remodelação de um apartamento de luxo, Paul se detém
num parque, pensando na vida. Precisa de paz depois de um dia péssimo.
Em vez disso, encontra um homem espancando um cachorro e,
por alguns momentos, mergulha num mundo de violência e numa jornada anárquica
de autoconhecimento, redenção e culpa. Morte e vida cruzam seu caminho. A densa
e sensível narrativa de Spencer capta a intensidade da paixão humana e a
capacidade redentora ou destrutiva que pode proporcionar. Neste thriller
psicológico que mereceu grandes elogios da crítica norte-americana, Spencer não
economizou em ironia, espirituosidade e sensibilidade.
Moral, masculinidade, escolhas e destino envolvem os
personagens com seus questionamentos e suas escolhas. Mesmo movidos pelas
melhores razões, os humanos, com seus amores obsessivos e violentos, não medem,
por vezes, as consequências de fazer algo errado.
Spencer é um magistral contador de histórias, une trama
aguda, personagens fortes e uma escrita que pega o leitor pelo colarinho e o
leva, com muito prazer, até o final.
O jornal The Huffington Post coloca o romance de Spencer
como um clássico da literatura americana. Acho que o tempo confirmará a
opinião. Editora Bertrand Brasil, 378 páginas, R$ 40,00, tradução de Paulo
Afonso, mdireto@record.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário