16 de outubro de 2013 |
N° 17585
EDUARDO VERAS
Um elogio
Amélia Brandelli é minha amiga –
e eu sei que há riscos em submeter à crítica o trabalho de um amigo.
Em um desses textos tão sábios
como saborosos, a cada 15 dias no caderno de Cultura, Celso Loureiro Chaves
advertiu que não se deveria nunca criticar a obra dos amigos. Que se perca a
piada... Paciência! O amigo fica.
Alguém poderia acrescentar que,
no caso de uma crítica elogiosa, se corre ainda outro risco. O amigo se mantém,
a credibilidade se abala. Nem mesmo o fato de se admitir que o alvo da crítica
é um amigo, como faço aqui, deve eximir o crítico da desconfiança do compadrio:
eu te elogio, tu me dás um tapinha nas costas.
O motivo, porém, que me leva a
anunciar que sou amigo de Amélia Brandelli e que pretendo criticar, ainda que
brevemente, o seu trabalho é ainda outro. Amélia é minha amiga, e isso me
permitiu acompanhar ao longo de 10 anos ou mais o desenvolvimento de sua
pintura e o desenrolar de seus processos de criação. Frequentei sua casa, seu
ateliê, conversei com ela sobre o que produzia, chegamos a planejar algumas
exposições.
Nos últimos dois anos, em razão
desses atropelos cotidianos que fazem com que a gente, miseravelmente, não
tenha tempo para os amigos, vi pouco daquilo que vinha fazendo a minha amiga.
Daí minha surpresa ao visitar a exposição coletiva Entre: Curadoria A-Z, no
sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
As duas salas estão muito cheias
(talvez cheias demais), com peças de mais de 80 artistas, jovens gaúchos que
consolidaram sua produção entre o final dos anos 1990 e a primeira década dos
2000. No meio disso tudo, o que mais me chamou atenção foi justamente o
trabalho da Amélia, trabalho que há algum tempo eu não via.
Trata-se de uma pintura de porte
médio e bastante escura – uma dessas, muito raras, que conseguem conjugar (bem)
os sentimentos da força e da delicadeza. Suave sem ser frouxa. Amélia combina
sobre o mesmo plano a figura e a abstração. Uma quase paisagem se afirma em
preto e azul, muito próximos, quase indiscerníveis, e ao mesmo tempo se deixa
cortar por uma faixa de cor que nos devolve, novamente, para o plano da
pintura.
É um impressionismo às avessas,
em que a gente tem de continuamente se aproximar e se afastar da tela para
compreender o que está acontecendo. Em um tempo de tanta gente esperta e suas
sacadas ainda mais brilhantes, Amélia convida de novo à contemplação.
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