26
de outubro de 2013 | N° 17595
ARTIGOS
ZH - Leonardo Araujo*
Entre média e mediocridade
Em
pleno século 21, nosso sistema educacional ainda não consegue fazer com que
muitos alunos cheguem ao Ensino Médio com uma base razoável em aritmética ou
sabendo interpretar corretamente um enunciado que tenha mais de duas linhas.
O
que parece é que boa parte de nossas escolas está preparada da mesma forma que
esteve desde o início do século 20: apenas para ensinar a faixa média do
universo estudantil, sem dispor de ações pedagógicas confiáveis e abrangentes
que contemplem os que estão em cada uma de suas extremidades.
Neste
cenário – preocupante para o futuro do país – programas de fomento educacional
são obviamente válidos e urgentes. É inegável a necessidade de trazer, no mínimo
para a média, a imensa parcela de alunos que está na faixa inferior, embora
ainda muito se discuta sobre como fazê-lo sem perda de qualidade.
Porém,
há que se ter cautela em não empregar todos os recursos somente nesse vetor e
relegar ao descaso a parcela que se encontra na faixa superior. Senão, corre-se
o risco de essa última perder o estímulo e paulatinamente ir declinando, até horizontalizar-se
na mesma média que, no Brasil, é muito baixa.
Atualmente,
ações que contemplam alunos talentosos quase não recebem apoio e são até estigmatizadas
por alguns segmentos educacionais. Com elas, em curto prazo, seria possível
desenvolver, melhor e mais rapidamente, o potencial intelectual e a capacidade
de interação social desses jovens, a fim de que, com a mesma linguagem e
identidade etária, pudessem auxiliar de forma mais efetiva os colegas que têm
dificuldades. A experiência nos mostra que isso estabelece um círculo virtuoso,
gerando motivação e satisfação para todos, além de uma resultante educacional
diferenciada e positiva.
É fundamental
que o país cuide de sua “inteligência”, ou seja, de seus jovens mais
promissores – e desde cedo, pois, como evidencia a figura de um busca-pé, de
nada adianta ter força sem que esta tenha direção.
Uma
média educacional elevada – fundamental para o desenvolvimento do Brasil – requer
um trabalho amplo, competente e de longo prazo, que não pode prescindir do
aproveitamento do patrimônio intelectual de seu povo. Caso contrário, a consequência
poderá ser uma semelhança, muito mais do que etimológica, entre média e
mediocridade, com severos prejuízos na formação dos homens e mulheres que,
futuramente, conduzirão os destinos do país.
*Educador,
professor de matemática e responsável pelo Projeto de Potencialização e
Enriquecimento (Propen) do Colégio Militar
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