segunda-feira, 7 de outubro de 2013


07 de outubro de 2013 | N° 17576
L. F. VERISSIMO | L.F. VERISSIMO

Walters

OStanislaw Ponte Preta, grande humorista, também escrevia “sério”, mas com outro nome. Escrevia contos e comentários que assinava com seu nome verdadeiro, Sérgio Porto.

Stanislaw Ponte Preta era ao mesmo tempo o criador de personagens inesquecíveis e ele mesmo um personagem inesquecível, criado por Sérgio Porto – seu Walter Ego, como diria o próprio Lalau.

Já o Millôr fazia humor e falava sério sem mudar de nome, e nos ensinou que você pode tratar das últimas questões da existência sem perder a graça, ou das mais bobas sem ser bobo.

Graham Greene não mudava de nome mas dividia sua obra em literatura e o que chamava de “entretenimentos”, que incluíam policiais e comédias. Sua literatura “séria” era fortemente marcada pela desilusão política e a busca da salvação numa conduta ética particular ou na religião.

Pode-se imaginar Greene começando um “entretenimento” como quem tira férias das suas angústias, ou troca sapatos apertados por chinelos de dedo.

Nunca ficou claro por que o Fernando Pessoa usava tantos heterônimos, já que a poesia de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e os outros que ele inventou não era muito diferente da sua.

Talvez fosse apenas a vontade, comum a artistas, de ser muitos. No meu caso – note a naturalidade com que pulei de Fernando Pessoa à minha pessoa –, foi por necessidade.

Quando comecei a trabalhar em jornal, uma das minhas funções era escrever para a página de opiniões quando faltavam articulistas, e usava dois pseudônimos que muitas vezes se contradiziam.


Nunca chegou a haver polêmica aberta entre os dois, mas o Luis Volpe e o Fernando Lopes claramente se odiavam, e viviam trocando farpas.

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