22
de outubro de 2013 | N° 17591
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
García Márquez e Erico
Várias
vezes citei, de memória, uma informação que havia lido tempos atrás: que
Gabriel García Márquez afirmou ter tido uma forte lição narrativa em O Tempo e
o Vento, de Erico Verissimo, para compor seu clássico mundial Cem Anos de Solidão.
Publicado em 1967, o livro viria a vender mais de 30 milhões de exemplares, em 30
e tantos idiomas, e esteve no centro do chamado “boom” da literatura latino-americana
no começo dos anos 1970, fenômeno de recepção que ocorreu em Paris e, depois,
por toda parte.
Mais
de uma vez, vi narizes torcidos para essa possibilidade, por parte de gente que
não acreditava que um autor como Erico, gaúcho, tivesse de algum modo
influenciado aquele que viria a ser Prêmio Nobel em 1982.
Nessa
semana, resolvi retomar a fonte dessa informação, para conferir. Está num PS ao
prefácio de Me Alugo para Sonhar, interessante relato de uma oficina para
roteiros feita por García Márquez e o brasileiro Doc Comparato (tradução de
Eric Nepomuceno, publicado em Niterói pela Casa Jorge Editorial, 1997), mais
Edgar Soberón Torchia.
Comparato,
roteirista brasileiro, que assina o prefácio, conta como conheceu García Márquez,
em Moscou, num festival em 1987. Meses depois, se reencontraram em Paris, e lá o
escritor colombiano contou que havia tomado conhecimento do roteirista
brasileiro pela adaptação de O Tempo e o Vento para a tevê, numa famosa minissérie
da Globo de 1985, premiada em festival com júri presidido pelo colombiano, com
roteiro de Comparato.
“O
Tempo e o Vento foi um dos três romances que estudei para escrever Cem Anos de
Solidão. Verissimo foi genial ao manejar a saga de uma família através dos
tempos. É uma pena que tão poucos brasileiros reconheçam isso”, disse o
escritor para o roteirista.
Aí está
a fonte da minha informação, que enlaça a obra maior de Erico, publicada entre 1949
e 1962, no grande momento do dito “boom”, ainda que depois do estouro. O tempo
vai dando clareza para muitas coisas; e cresce a importância da memória de
Erico, agora instalada no centro da cidade (esperemos que para sempre, sem
problemas com a mudança operada no Centro Cultural da CEEE que leva seu nome).
Nenhum comentário:
Postar um comentário