terça-feira, 29 de outubro de 2013


29 de outubro de 2013 | N° 17598
ARTIGOS ZH - Gilberto Schwartsmann*

E como ficam os pacientes do SUS?

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu pela obrigatoriedade da incorporação de mais de 80 procedimentos para beneficiários de planos de saúde individuais e coletivos a partir de janeiro do próximo ano. Com isto, mais de 30 novos medicamentos de uso oral, utilizados no tratamento de pacientes com câncer, bem como vários exames diagnósticos, passarão a ter cobertura pelos chamados planos de saúde.

Diz o ministro da Saúde que se trata de uma “mudança de paradigma, que dará ao paciente com câncer melhor qualidade de vida!”. É óbvio que devemos comemorar esta conquista, pois isto significa um inestimável benefício aos pacientes com câncer que possuem seguros privados.

Infelizmente, a medida deixa de fora ao menos 75% dos pacientes com câncer do país, que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Estes continuarão humilhados, nas longas filas de espera, onde tudo é difícil. E com direito a apenas um número restrito de medicamentos que o governo hoje oferece.

Minha experiência no atendimento de pacientes com câncer não é pequena. São décadas dedicadas ao serviço público. Muitos pacientes passam por uma verdadeira via-crúcis até iniciar o tratamento. As estruturas administrativas da saúde são lentas, burocráticas e impessoais. Perde-se um tempo precioso com a falta de eficiência do sistema.

O pobre, que já passou por esta experiência com alguém da família, sabe bem a que me refiro. No Brasil real, depois de uma longa e sofrida espera, os exames e tratamentos oferecidos pelo SUS aos pacientes com câncer nem sempre são tão acessíveis e os mais modernos. Além disto, a remuneração paga pelo governo aos hospitais públicos é muito abaixo do necessário, com reflexos na qualidade do atendimento e obrigando os gestores a fazer milagres para não ter de fechar suas portas.

Chega-se ao ridículo de médicos renomados, em instituições acadêmicas, buscarem a participação dos pacientes em tratamentos experimentais, não tanto pelo entusiasmo com as novas perspectivas científicas, mas pelo fato de a pesquisa garantir ao paciente, de forma gratuita, o acesso a um medicamento já disponibilizado pelos planos de saúde privados, mas ainda indisponível pelo SUS.

Sugiro que o Ministério da Saúde estenda esta nova vantagem aos brasileiros mais pobres, que dependem exclusivamente do SUS. Do contrário, estes continuarão vivendo a humilhação de sempre. É impossível comemorar essa conquista tão importante da minoria, sem pensar no sofrimento da maioria.

Por que não aproveitar o momento e melhorar o atendimento de todos os pacientes com câncer? Dizem os economistas que isto significaria, mensalmente, um acréscimo de custo de apenas R$ 0,39 por usuário. Não seria prejuízo para o governo. Pelo contrário, seria investimento. E reforçaria o seu compromisso de realmente melhorar a vida das pessoas.

Que bela bandeira exigir igualdade de tratamento para a maioria mais pobre e sofrida que depende unicamente do SUS!


*MÉDICO E PROFESSOR

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