15 de outubro de 2013 | N° 17584
PAULO SANT’ANA
Moisés de
Michelângelo
Um rapaz que já escreveu vários livros e sempre
presenteou-me todos para lê-los reclama-me de que não os leio.
Difícil foi explicar a ele minha desídia: “Olha, eu tenho a
Bíblia lá em casa e não a leio. Sinto que Deus, como tu, intercede para que eu
a leia. Mas seja por falta de tempo ou por ser omisso, não leio a Bíblia. Ora,
se não atendo a Deus, como vens exigir que eu te atenda?”.
O rapaz despediu-se de mim aparentemente consolado.
Se há um fato que me aturde é o de vir-me acordar de
madrugada e não mais conciliar o sono.
Ainda faltam horas para eu sair de casa e cumprir meus
compromissos. E sou, assim, obrigado à vigília.
Ensaio ler um livro mas não passo das duas primeiras
páginas.
Sinto, então, que terei de defrontar-me com o terrível
embate contra meus próprios pensamentos e cismares. Terrível luta!
Logo me vêm à mente as ingratidões que cometi, as pessoas
que deixei de auxiliar, quando em realidade não seria muito difícil ajudá-las.
Que valor gigantesco tem a consciência humana, a luta que
travamos com ela é ciclópica.
Meus tios, meus pais, meus irmãos, meus amigos, quantas e
quantas queixas fundadas devem-me silenciosamente terem feito.
Às vezes, chego à derrubadora conclusão de que na vida muito
mais deixei de fazer do que fiz. Mas aí me consolo: por viés, o mal também
deixei mais de praticá-lo do que o fiz.
Pensamento da madrugada: e se Deus, de repente, me
aparecesse aqui no meu quarto e sua figura de Jeová das Sagradas Escrituras
entabulasse uma conversa comigo?
Sou um cretino: será que exijo que Deus me apareça para só
assim crer nele? Será que ainda não me convenci, com tantos sinais dele que percebi
em toda a minha vida, que não há dúvida de que ele exista?
Quem nunca teve insônia? Só os bem-aventurados não devem
tê-la tido.
Mas as maiores obras de arte dos grandes artistas são
imaginadas e criadas durante as insônias deles.
Tenho certeza de que a escultura de Moisés de Michelângelo,
que pode ser vista ainda hoje no Vaticano, foi feita durante insônias do genial
escultor.
Não posso me comparar aos gênios, mas grande número de
colunas minhas foi feito durante minhas insônias.
Por que será que nós, humanos, sempre somos mais inspirados
nos momentos que sucedem ao nosso despertar?
É que os sonhos, durante o sono, são grandes fontes de
inspiração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário