07
de julho de 2013 | N° 17484
CAPA
Vozes que embalam a
noite
Com
seus timbres, olhares e belezas, as cantoras vivem o compasso noturno de Porto
Alegre
A
madrugada traz uma melodia singular às ruas de Porto Alegre. É uma melodia
noturna que pode ter a batida de muitos ritmos e estilos musicais, do jazz ao
rock, do samba ao tango. E para cantar essa multiplicidade musical, surgem
vozes singulares, vozes de mulher. A noite é territótio delas: em meio às luzes
dos bares e casas noturnas, as cantoras brilham. Não importa o que se cante. Se
a voz no palco é feminina, há algo de sublime no ar.
Seguindo
o rastro de grandes nomes da música popular brasileira formadas aqui mesmo, na
Capital, como Elis Regina e Adriana Calcanhotto, essas mulheres vertem sua arte
em bares, pubs e casas noturnas. E também nos teatros e grandes palcos, quando
atingem um reconhecimento mais abrangente de seu talento. Para levar essa vida
noturna, enfrentam as consequências de trabalhar enquanto a maioria dorme e
encaram o desafio de serem mulheres que escolheram a música da noite para
viver.
Apaixonada
pelo canto desde os 14 anos, Bella Stone, 23 (foto), é um dos novos talentos
que há muito frequenta os palcos da noite na Capital. Depois de ter estudado
música erudita, formou uma banda com amigos de colégio.Queria experimentar-se
na arte. Com o grupo, aos 16 anos, começou a cantar em bares de rock.
A
formação lírica, no entanto, a inquietou para que descobrisse outras
características de seu talento. Foi quando embarcou no estudo do jazz e caiu de
amores por cantoras como Ella Fitzgerald e Aretha Franklin. Natural de Pelotas,
Bella também não ficou indiferente à música feita por seu conterrâneo, Vitor
Ramil, cujas canções estão sempre presentes no repertório. Essa mistura resulta
em interpretações econômicas e, ao mesmo, tempo intensas, seja na intimidade
dos teatros ou no burburinho dos bares e casas noturnas.
No
ano passado, por indicação de amigos, Bella se inscreveu no programa The Voice
Brasil, da Rede Globo. Chegou às semifinais, exposição suficiente para que
ficasse mais conhecida no Rio Grande do Sul e no país. Por que não quis ficar
no Rio de Janeiro para tentar seguir carreira por lá? Ela responde:
—
Gosto de morar aqui. Não gostaria de viver em cidades como o Rio ou São Paulo.
Mãe
precoce, Bella compreendeu desde cedo as dificuldades e responsabilidades de
viver de música. Para conciliar o trabalho como cantora com a criação do filho,
Érico, cinco anos, conta com a ajuda da família e de amigos. E também carrega o
guri para muitas de suas apresentações.
—
Ele conta para as pessoas na fila do supermercado: “Sabia que a minha mãe é
cantora?”. Ele está crescendo em meio a músicos, camarins, shows. Às vezes, até
me apresenta ao público, no palco. Tem que se acostumar com o trabalho da mãe
dele, né?
Organizar
o orçamento também desafia o errático trabalho de artista. Equacionar os prazos
de pagamento dos contratantes, a divulgação do trabalho e a agenda de
apresentações nem sempre é uma operação simples e de resultado positivo.
—
Quando se tem filho, essa responsabilidade pesa ainda mais.
Em
função dessas vicissitudes da profissão, Bella comenta que já se questionou
sobre a escolha pela música. Até pensou em mudar de carreira, trabalhar em algo
mais estável. Mas nunca conseguiu. Cantar, para Bella, é uma espécie de seiva
vital, sem a qual não é possível existir.
Enquanto
trabalha no seu primeiro CD, de conteúdo intimista e feito para “sentar e
escutar”, segundo ela própria, Bella não deixa a noite. Atualmente, pode ser
vista no palco do Ocidente com o projeto Back to Black, um tributo a Amy
Winehouse, ao lado de um time de músicos consagrados da cena porto-alegrense.
—
Esse trabalho se encaixa perfeitamente no ambiente da noite. É o meu ambiente
natural.
PATRÍCIA
LIMA
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