sexta-feira, 5 de julho de 2013

PAULO SANT’ANA


05 de julho de 2013 | N° 17482
PAULO SANT’ANA

Golpe no Egito

Impressionante o que está acontecendo no Egito: houve manifestações teoricamente pacíficas de rua, participando delas 17 milhões de pessoas, com o que as Forças Armadas decidiram depor o presidente Mohamed Mursi.

Assumiu o presidente da Suprema Corte, Adly Mansour.

Eu não acho correto. Porque certamente a Constituição egípcia estabelece a forma de decretar o impeachment, não prevendo que manifestações populares possam num repente depor um presidente.

Outra coisa: quem materialmente depôs o presidente não foram as concentrações populares: foram as Forças Armadas. Literalmente se pode dizer que houve um golpe no Egito. E se vê agora que o povo tem capacidade para aplicar um golpe.

Já aqui no Brasil, minha amiga Dilma Rousseff, posso chamá-la de amiga porque na solenidade de inauguração do Parque Gráfico Jayme Sirotsky, certa vez, quando ela era apenas ministra, desceu um longo lance de escadas somente para me cumprimentar, quando me disse que era minha leitora assídua. Pois bem, aqui no Brasil a atual presidente Dilma Rousseff, diante das intensas manifestações de rua, resolveu sugerir ao Congresso que leve a efeito um plebiscito.

É incrível, a presidente Dilma simplesmente mudou de assunto. O que o povo quis dizer nas manifestações é que precisa de mais saúde, mais educação, ninguém quer saber de plebiscito com o fim de uma reforma política.

A presidente Dilma não fez outra coisa senão botar o bode do plebiscito na sala. Manobra visivelmente diversionista.

Em vez disso, a resposta mais clara e incisiva que a presidente Dilma poderia ter dado era reduzir de 39 para 15 o número de integrantes de seu ministério. Mas isso nem passa pela cabeça de Dilma, o que pode vir a diminuir ainda mais a sua popularidade.

E uma pergunta que faço: se diminuir ainda mais em nível assustador a popularidade de Dilma, o PT pode substituí-la por Lula como candidato a presidente? Não é muito frequente isso que ocorreu no Egito agora: povo e Forças Armadas unidos ou usando um ao outro para derrubar um presidente.

O ditador do Egito, Hosni Mubarak, foi derrubado praticamente pelo povo, lembro-me que então as Forças Armadas eram favoráveis a Mubarak, mas elas não resistiram à pressão popular e o ditador foi destituído.

Só que se instalou no Egito então uma democracia. E com apenas dois anos e cinco meses depois de sua instalação, aparece esta outra grande encrenca.

E, pelo que tenho visto na televisão, é inédito ou quase inédito tanta gente na Praça Tahrir pedindo a deposição do presidente: mais ou menos 3 milhões de pessoas ao redor de uma praça, é gente que não acaba mais.

E gente, como se vê, poderosa.


Uma frase que criei ontem à tarde: “Estamos vivendo num tempo em que até jacarés andam morrendo afogados.”.

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