05
de julho de 2013 | N° 17482
DAVID
COIMBRA
Sem partido! Sem partido!
Todos
concordamos, não é? O brasileiro é um povo ordeiro e bom, representado por políticos
desonestos e maus. Ontem mesmo vi um sujeito atirar uma bola de papel pela
janela do carro, sujando a rua, e pensei: lá vai um maldito deputado!
Aqueles
seis bandidos que invadiram a casa de uma família boliviana, em São Paulo, e
mataram um menino de cinco anos de idade porque ele chorou. Só podem ser
deputados. Pela natureza do crime, talvez sejam senadores.
Os
sujeitos que andam queimando viaturas da polícia. Não duvido que sejam
vereadores, sabe como são esses vereadores.
As
pessoas que se aproveitam das manifestações para quebrar, saquear e assaltar,
essas pessoas, evidentemente, são presidentes de partidos. No Rio, vi uma
senhora de joelhos na calçada em frente a sua loja. Implorava, de mãos postas,
para que os manifestantes mascarados não roubassem seu estabelecimento. Eles
riram dela e a roubaram. Também deviam ser presidentes de partido. Ou, quem
sabe, alguns desses suplentes escorregadios.
Os
furadores de fila, os sequestradores que atacam sob os semáforos, os golpistas
que ligam para o seu celular, os inoculadores de vírus na internet, os
adulteradores do leite das criancinhas, os homens que batem nas mulheres, as mães
que deixam os filhos abandonados pelas ruas, os flanelinhas que riscam os
carros, os leitores grosseiros, os jornalistas venais, todos os que, todos os
dias, iludem, burlam e enganam, todos são, nós sabemos, malditos parlamentares.
Se não
fossem esses políticos, que país maravilhoso seria o Brasil. Temos mesmo que
implodir a democracia representativa e gritar, como ouvi a massa gritando nas
manifestações:
– Sem
partido! Sem partido!
A
massa é um monstro sem cabeça, já dizia Charles Chaplin, adaptando Marx. Curiosamente,
era disso que as massas se orgulhavam nas manifestações: de não haver cabeça;
havia só corpo.
– Sem
partido! Sem partido! _ gritavam, e queriam dizer: vocês, que nós mesmos
escolhemos para nos representar, não nos representam.
Por
que não representariam? Porque, afinal, somos um povo ordeiro e bom
representado por políticos desonestos e maus. Agora, se não for nada disso, se
a democracia representativa funcionar, como funciona em todo o mundo, e o
Congresso for apenas um espelho do que é o povo, meu Deus, não quero pensar nisso.
Porque não vai adiantar quebrar o espelho.
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