segunda-feira, 8 de julho de 2013

Incêndio no Mercado Público expõe fragilidades na estrutura dos Bombeiros
Marcelo Gonzatto

No tempo em que chamas estavam descontroladas, bombeiros contaram com uma escada Magirus

Incêndio no Mercado Público expõe fragilidades na estrutura dos Bombeiros Tadeu Vilani/Agencia RBS

A dificuldade de combate ao fogo pelo alto foi uma das principais fragilidades

Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS

O trabalho do Corpo de Bombeiros para conter o incêndio no Mercado Público da Capital salvou o prédio da ruína, mas também revelou carências na infraestrutura da corporação na Capital.

Embora a chegada das primeiras viaturas tenha demorado apenas quatro minutos, a falta de pessoal e equipamentos próprios exigiu o apoio de unidades localizadas a mais de 35 quilômetros e que precisaram de uma hora para enviar equipamentos importantes como mais escadas Magirus. A dificuldade de combate ao fogo pelo alto foi uma das principais fragilidades demonstradas pelo incidente de sábado.

Quando os bombeiros chegaram diante da fachada em chamas do prédio histórico, às 20h38min, conforme a marcação oficial do comando na Capital, parecia que sobraria pouco do Mercado Público.

As labaredas se elevavam acima da cobertura metálica e avançavam para os lados. Ao perceber a dimensão do incêndio, os bombeiros da Capital acionaram a rede de apoio que congrega unidades de municípios como Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo. O pedido de auxílio também foi necessário para fazer frente às carências de estrutura na Capital.

Durante a maior parte do tempo em que o incêndio estava descontrolado, os bombeiros contaram com sua única autoescada mecânica (conhecida popularmente pela marca Magirus) em operação na cidade para lançar água do alto sobre o segundo piso ardente. Para enfrentar o fogo nas três fachadas, o equipamento tinha de ser deslocado lentamente.

— Esse é um processo que leva uns 10 minutos, o que é muito numa situação dessas. O ideal era agir ao mesmo tempo em todas as frentes — avalia o subcomandante dos bombeiros na Capital, major Rodrigo Dutra, também coordenador do núcleo de oficiais bombeiros da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (Asofbm).

Enquanto isso, outros dois veículos equipados com esse tipo de escada, capaz de atingir 30 metros de altura, se deslocavam desde São Leopoldo e Novo Hamburgo. Segundo Dutra, em razão da demora, foram utilizadas mais para fazer rescaldo do que para combater o fogo. A estratégia dos bombeiros foi enviar homens para o interior do prédio — o que aumenta a eficácia dos jatos de água por não enfrentar obstáculos como paredes e coberturas — e estabelecer uma linha imaginária a partir da qual as chamas não deveriam passar, e que acabou sendo o limite final do incêndio.

Porém, foi necessário um novo esforço para compensar outra carência da corporação: a falta de pessoal. Segundo o major Dutra, como há cerca de cinco vezes menos homens do que o ideal (veja abaixo), cerca de 20% dos 70 militares mobilizados estavam de folga e agiram de forma voluntária. Outros vieram de municípios vizinhos, o que também atrasou a formação da força máxima para enfrentar as chamas.

Segundo o especialista em gerenciamento de riscos Gustavo Cunha Mello, do Rio de Janeiro, carências de pessoal e equipamento são uma ameaça comum em caso de incêndio em capitais como Porto Alegre. A escassez de escadas magirus é um dos problemas mais graves.

— Uma tragédia nunca ocorre por um fator só, é sempre uma combinação. A estrutura dos bombeiros é uma delas, assim como legislação e fiscalização — avalia Mello.

O comandante dos bombeiros na Capital, tenente-coronel Adriano Krukoski, sustenta que, apesar das dificuldades, o trabalho da corporação teve sucesso ao limitar em 10% da edificação os estragos.

A RESPOSTA DOS BOMBEIROS

Veja qual a condição dos profissionais da Capital revelada durante o incêndio, e qual poderia ter sido em condições ideais de infraestrutura

Viaturas de combate a incêndio

Como foi — Revezaram-se 15 carros de combate ao fogo no local, mas foi necessário o apoio de veículos de outras cidades. Isso ocorreu, segundo o subcomandante dos bombeiros na Capital, major Rodrigo Dutra, porque Porto Alegre tem um número insuficiente de veículos - um para cada uma das 10 estações localizadas na cidade. O problema é que, quando se pede apoio de unidades mais distantes, o tempo de deslocamento é maior.

Como poderia ter sido — O ideal, segundo o major Dutra, é que a Capital contasse com uma viatura de primeira resposta e outra de suporte de água em cada estação de bombeiros da Capital - o que somaria 20 unidades em Porto Alegre, ou o dobro do disponível hoje.

Autoescadas mecânicas

Como foi — Essa foi uma das principais carências no primeiro combate às chamas. As autoescadas mecânicas (popularmente conhecidas pela denominação da marca Magirus) servem para lançar água de pontos altos, chegando a cerca de 30 metros. Porto Alegre conta com apenas uma em funcionamento (uma segunda está estragada), que levou perto de cinco minutos para chegar ao local. Outras duas foram deslocadas de São Leopoldo e Novo Hamburgo.

Como poderia ter sido — Se a Capital tivesse três escadas magirus próprias - número considerado o mínimo necessário pelo comando dos bombeiros de Porto Alegre - todas poderiam ter chegado ao local no menor tempo possível, ao redor de cinco minutos, e dado início a um combate mais eficiente ao fogo já nos primeiros momentos do incêndio.

Autoplataforma mecânica

Como foi — Além de contar com apenas uma autoescada mecânica em funcionamento, a Capital não dispõe de autoplataformas mecânicas. Esse tipo de equipamento é outro aparato aéreo de combate a incêndio e se caracteriza pela existência de uma espécie de braço mecanizado capaz de elevar um bombeiro a alturas ao redor de 70 metros.

Como poderia ter sido — A existência de uma autoplataforma poderia ter ampliado o ataque aéreo aos focos de incêndio e combatido a expansão das chamas no segundo piso do mercado, justamente a área mais atingida pelo fogo.

Quantidade de bombeiros

Como foi — Cerca de 70 homens participaram da operação, dos quais a maior parte atuou no interior do prédio. O número é considerado suficiente pela corporação. O problema é que 20% desse contingente, segundo o major Rodrigo Dutra, era formado por militares de folga que agiram de forma voluntária, além de outros que vieram de cidades vizinhas. Isso aumenta o tempo de deslocamento e é fruto da defasagem de bombeiros na Capital.

Como poderia ter sido — Indicadores internacionais apontam que deve haver um bombeiro para cada grupo de mil habitantes em cidades grandes, o que levaria à existência de pelo menos 1,4 mil homens na Capital. Porém, a cidade conta com quase cinco vezes menos do que isso, conforme o major Rodrigo Dutra. Se tivesse o número ideal, toda a força humana chegaria mais rapidamente ao local.

OUTROS ITENS

Algumas ferramentas foram fundamentais no combate ao fogo

Equipamentos de proteção — Segundo avaliação do major Rodrigo Dutra, não houve falta de equipamentos de proteção. Isso permitiu que a grande maioria dos homens presentes no local combatesse as chamas do lado de dentro do prédio, e não do lado de fora, o que aumenta a eficácia dos jatos de água, segundo a corporação. Isso ajudou a evitar uma maior propagação do fogo.

Água — Inicialmente, surgiram informações de que teria faltado água para combater as chamas do Mercado. Porém, essa informação não é confirmada pelo comando do Corpo de Bombeiros na Capital. O comandante Adriano Krukoski afirma que havia água disponível nos hidrantes do centro da cidade e com pressão suficiente.


Mangueiras — Imagens mostraram vazamentos de água nas mangueiras que combatiam o fogo. Segundo informações oficiais dos bombeiros, porém, apenas uma mangueira apresentou vazamento em dois pontos diferentes. Isso ocorreu porque ela foi danificada por partes do prédio em chamas durante o combate ao fogo.

Nenhum comentário: