Incêndio no Mercado Público expõe
fragilidades na estrutura dos Bombeiros
Marcelo
Gonzatto
No
tempo em que chamas estavam descontroladas, bombeiros contaram com uma escada
Magirus
Incêndio
no Mercado Público expõe fragilidades na estrutura dos Bombeiros Tadeu Vilani/Agencia
RBS
A
dificuldade de combate ao fogo pelo alto foi uma das principais fragilidades
Foto:
Tadeu Vilani / Agencia RBS
O
trabalho do Corpo de Bombeiros para conter o incêndio no Mercado Público da
Capital salvou o prédio da ruína, mas também revelou carências na
infraestrutura da corporação na Capital.
Embora
a chegada das primeiras viaturas tenha demorado apenas quatro minutos, a falta
de pessoal e equipamentos próprios exigiu o apoio de unidades localizadas a
mais de 35 quilômetros e que precisaram de uma hora para enviar equipamentos
importantes como mais escadas Magirus. A dificuldade de combate ao fogo pelo
alto foi uma das principais fragilidades demonstradas pelo incidente de sábado.
Quando
os bombeiros chegaram diante da fachada em chamas do prédio histórico, às 20h38min,
conforme a marcação oficial do comando na Capital, parecia que sobraria pouco
do Mercado Público.
As
labaredas se elevavam acima da cobertura metálica e avançavam para os lados. Ao
perceber a dimensão do incêndio, os bombeiros da Capital acionaram a rede de
apoio que congrega unidades de municípios como Canoas, Novo Hamburgo e São
Leopoldo. O pedido de auxílio também foi necessário para fazer frente às carências
de estrutura na Capital.
Durante
a maior parte do tempo em que o incêndio estava descontrolado, os bombeiros
contaram com sua única autoescada mecânica (conhecida popularmente pela marca
Magirus) em operação na cidade para lançar água do alto sobre o segundo piso
ardente. Para enfrentar o fogo nas três fachadas, o equipamento tinha de ser
deslocado lentamente.
— Esse
é um processo que leva uns 10 minutos, o que é muito numa situação dessas. O
ideal era agir ao mesmo tempo em todas as frentes — avalia o subcomandante dos
bombeiros na Capital, major Rodrigo Dutra, também coordenador do núcleo de
oficiais bombeiros da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (Asofbm).
Enquanto
isso, outros dois veículos equipados com esse tipo de escada, capaz de atingir 30
metros de altura, se deslocavam desde São Leopoldo e Novo Hamburgo. Segundo
Dutra, em razão da demora, foram utilizadas mais para fazer rescaldo do que
para combater o fogo. A estratégia dos bombeiros foi enviar homens para o
interior do prédio — o que aumenta a eficácia dos jatos de água por não
enfrentar obstáculos como paredes e coberturas — e estabelecer uma linha imaginária
a partir da qual as chamas não deveriam passar, e que acabou sendo o limite
final do incêndio.
Porém,
foi necessário um novo esforço para compensar outra carência da corporação: a
falta de pessoal. Segundo o major Dutra, como há cerca de cinco vezes menos
homens do que o ideal (veja abaixo), cerca de 20% dos 70 militares mobilizados
estavam de folga e agiram de forma voluntária. Outros vieram de municípios
vizinhos, o que também atrasou a formação da força máxima para enfrentar as
chamas.
Segundo
o especialista em gerenciamento de riscos Gustavo Cunha Mello, do Rio de
Janeiro, carências de pessoal e equipamento são uma ameaça comum em caso de incêndio
em capitais como Porto Alegre. A escassez de escadas magirus é um dos problemas
mais graves.
— Uma
tragédia nunca ocorre por um fator só, é sempre uma combinação. A estrutura dos
bombeiros é uma delas, assim como legislação e fiscalização — avalia Mello.
O
comandante dos bombeiros na Capital, tenente-coronel Adriano Krukoski, sustenta
que, apesar das dificuldades, o trabalho da corporação teve sucesso ao limitar
em 10% da edificação os estragos.
A
RESPOSTA DOS BOMBEIROS
Veja
qual a condição dos profissionais da Capital revelada durante o incêndio, e
qual poderia ter sido em condições ideais de infraestrutura
Viaturas
de combate a incêndio
Como
foi — Revezaram-se 15 carros de combate ao fogo no local, mas foi necessário o
apoio de veículos de outras cidades. Isso ocorreu, segundo o subcomandante dos
bombeiros na Capital, major Rodrigo Dutra, porque Porto Alegre tem um número
insuficiente de veículos - um para cada uma das 10 estações localizadas na
cidade. O problema é que, quando se pede apoio de unidades mais distantes, o
tempo de deslocamento é maior.
Como
poderia ter sido — O ideal, segundo o major Dutra, é que a Capital contasse com
uma viatura de primeira resposta e outra de suporte de água em cada estação de
bombeiros da Capital - o que somaria 20 unidades em Porto Alegre, ou o dobro do
disponível hoje.
Autoescadas
mecânicas
Como
foi — Essa foi uma das principais carências no primeiro combate às chamas. As
autoescadas mecânicas (popularmente conhecidas pela denominação da marca
Magirus) servem para lançar água de pontos altos, chegando a cerca de 30 metros.
Porto Alegre conta com apenas uma em funcionamento (uma segunda está estragada),
que levou perto de cinco minutos para chegar ao local. Outras duas foram
deslocadas de São Leopoldo e Novo Hamburgo.
Como
poderia ter sido — Se a Capital tivesse três escadas magirus próprias - número
considerado o mínimo necessário pelo comando dos bombeiros de Porto Alegre - todas
poderiam ter chegado ao local no menor tempo possível, ao redor de cinco
minutos, e dado início a um combate mais eficiente ao fogo já nos primeiros
momentos do incêndio.
Autoplataforma
mecânica
Como
foi — Além de contar com apenas uma autoescada mecânica em funcionamento, a
Capital não dispõe de autoplataformas mecânicas. Esse tipo de equipamento é outro
aparato aéreo de combate a incêndio e se caracteriza pela existência de uma espécie
de braço mecanizado capaz de elevar um bombeiro a alturas ao redor de 70 metros.
Como
poderia ter sido — A existência de uma autoplataforma poderia ter ampliado o
ataque aéreo aos focos de incêndio e combatido a expansão das chamas no segundo
piso do mercado, justamente a área mais atingida pelo fogo.
Quantidade
de bombeiros
Como
foi — Cerca de 70 homens participaram da operação, dos quais a maior parte
atuou no interior do prédio. O número é considerado suficiente pela corporação.
O problema é que 20% desse contingente, segundo o major Rodrigo Dutra, era
formado por militares de folga que agiram de forma voluntária, além de outros
que vieram de cidades vizinhas. Isso aumenta o tempo de deslocamento e é fruto
da defasagem de bombeiros na Capital.
Como
poderia ter sido — Indicadores internacionais apontam que deve haver um
bombeiro para cada grupo de mil habitantes em cidades grandes, o que levaria à existência
de pelo menos 1,4 mil homens na Capital. Porém, a cidade conta com quase cinco
vezes menos do que isso, conforme o major Rodrigo Dutra. Se tivesse o número
ideal, toda a força humana chegaria mais rapidamente ao local.
OUTROS
ITENS
Algumas
ferramentas foram fundamentais no combate ao fogo
Equipamentos
de proteção — Segundo avaliação do major Rodrigo Dutra, não houve falta de
equipamentos de proteção. Isso permitiu que a grande maioria dos homens
presentes no local combatesse as chamas do lado de dentro do prédio, e não do
lado de fora, o que aumenta a eficácia dos jatos de água, segundo a corporação.
Isso ajudou a evitar uma maior propagação do fogo.
Água
— Inicialmente, surgiram informações de que teria faltado água para combater as
chamas do Mercado. Porém, essa informação não é confirmada pelo comando do
Corpo de Bombeiros na Capital. O comandante Adriano Krukoski afirma que havia água
disponível nos hidrantes do centro da cidade e com pressão suficiente.
Mangueiras
— Imagens mostraram vazamentos de água nas mangueiras que combatiam o fogo. Segundo
informações oficiais dos bombeiros, porém, apenas uma mangueira apresentou
vazamento em dois pontos diferentes. Isso ocorreu porque ela foi danificada por
partes do prédio em chamas durante o combate ao fogo.
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