04
de julho de 2013 | N° 17481
CAROL BENSIMON
Todos
os lugares que temos vontade de conhecer já estão de certa forma pré-fabricados
em nossas cabeças. Um caldo de músicas, livros e filmes que vai cozinhando, por
anos e anos, uma panorâmica simplificada. Então nós vamos até eles para
preencher o que falta, para provar que estamos certos, ou ainda para nos
enganarmos completamente.
Arizona.
No início dos anos 2000, eu sublinhei a seguinte frase de Uma Casa no Fim do
Mundo, romance do americano Michael Cunningham: “O Arizona era o primeiro lugar
da minha vida que se revelava exatamente como eu imaginara”. Mais de dez anos
depois, lá estava eu despertando de soco quando meu trem parou na fronteira da
Califórnia e seu vizinho árido do sudeste. Vou me lembrar da cena por muito
tempo: as luzes do posto policial iluminavam aquela areia cravejada de cactos
compridos e finos. Ventava um bocado.
Eu
estava indo para uma cidade chamada Bisbee, sozinha, e tudo por causa de uma
foto (os prédios avermelhados da rua principal, os morros avermelhados do
fundo, um clima meio filmes-do-Wim-Wenders que me conquistou completamente). Entre
ir para Nova York ou vagar pelas cidadezinhas do oeste, eu tinha escolhido a
segunda opção. Entre o tudo e o nada, o nada.
Meus
amigos e familiares tinham certeza de que eu não batia muito bem. Se não fosse
em busca de uma atração institucionalizada e certeira como o Grand Canyon, por
que diabos ir até o Arizona? Minha explicação: é mais fácil fazer uma jornada
que seja também uma jornada interior se você se descola dos destinos turísticos
mais óbvios.
Do
contrário, fica muito fácil cair no automático e voltar para casa com muitas
memórias de refeições insossas, filas quilométricas e tempo desperdiçado em
lojas de departamento. Viagens são boas para marcar nossa individualidade. Se
somos seres tão complexos e diferentes uns dos outros, me parece natural que
busquemos lugares que nos tocam particularmente em algum ponto (mesmo que não
saibamos em qual ponto), em vez de procurarmos todos, e sempre, os mesmo
destinos.
Eu não
sei o que eu vi no Arizona. Cunningham tinha razão: ele é o que você espera
dele, cactos, céu vasto, estradas desertas. A diferença, no entanto, está em
ser personagem ou espectador. Aquele lugar pré-fabricado passou a ser
finalmente meu.
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