01
de julho de 2013 | N° 17478
O
CAMPEÃO VOLTOU
Brasil
Furioso
Durante
os 15 minutos iniciais, a gana brasileira obrigou a Espanha a fazer o que a
Espanha nunca faz. A Espanha deu chutão. A fúria brasileira conquistou a Copa
das Confederações.
Uma
fúria patriótica, arrebatada, fúria de bater no peito, de cantar o Hino
Nacional com raiva e lágrimas nos olhos. Foi assim que cantou David Luiz, o
jogador-símbolo da vitória, cantou aos urros, de olhos arregalados e queixo
erguido.
Foi
assim que cantou o Maracanã inteiro, mesmo depois de o sistema de som ter
parado de tocar a gravação resumida do Hino, cantou à capela, o Maracanã, como
entoasse uma oração. E os jogadores, em campo, se emocionaram, e foram à luta
como soldados defendendo as fronteiras de casa, e enfiaram 3 a 0 na Espanha, a
reluzente campeã do mundo, a antiga Fúria, que ontem não foi furiosa, foi
mansa; a fúria estava do outro lado. A fúria era verde e amarela.
A
superioridade brasileira foi total desde o começo. Desde antes do começo. O gol
de Fred foi marcado logo no primeiro minuto, mas sua construção começou pelo
menos 24 horas antes.
No
final da tarde de sábado, a Seleção Brasileira foi ao Maracanã para o chamado
“reconhecimento do gramado”. Esse treino é, em geral, meramente protocolar. Os
jogadores brincam de bobinho e distendem a musculatura, enquanto o técnico,
mãos às costas, se limita a observar.
Nesse
sábado, não.
Nesse
sábado, Luiz Felipe trabalhou taticamente com os titulares. Ensaiou várias
vezes uma jogada que parecia bastante básica: a defesa fazia a bola rodar, até
que ela chegava ao pé esquerdo de David Luiz. Que a esticava na diagonal sobre
as cabeças dos meio-campistas até Hulk, na ponta direita. A missão de Hulk era
cruzar para a área, onde Fred entrava para concluir.
Foi
exatamente, precisamente, cirurgicamente isso que ocorreu nos primeiríssimos
segundos da decisão. A bola encontrou Fred, que, caído na pequena área, meteu
para o gol com o pé direito.
O
gol não poderia ser mais emblemático – um gol em que o centroavante marca
deitado na grama. Um gol de vontade. De fúria. Eis o detalhe importante desse
gol e desse jogo. Essa inversão de papéis. Historicamente, a seleção espanhola,
a “Fúria”, sempre foi associada com o ímpeto do touro em uma tourada. Já a
Brasileira, a “Seleção Canarinho”, sempre foi o time do futebol-arte, futebol
bonito e, não raro, do futebol... Bailarino.
Ontem,
não. Ontem, o Brasil foi só coração, e a Espanha foi só frialdade. Durante os
15 minutos iniciais, a gana brasileira obrigou a Espanha a fazer o que a
Espanha nunca faz. A Espanha deu chutão. O Brasil marcava em cima, roubava a
bola, partia para o ataque com... Fúria. A torcida, nas cadeiras coloridas do
Maracanã, não parava um segundo de cantar e gritar. Um jogador da Espanha
encostava a chuteira na bola e era vaiado, logo depois o Brasil retomava o
controle e todos entoavam:
– Ô,
o campeão voltou! O campeão voltou! Estavam certos. Ali estava, de novo, o
campeão.
O
primeiro ataque tramado da Espanha só foi acontecer aos 19 minutos, quando o
craque Iniesta chutou de longe, para Julio César defender. Aos 24, Marcelo
roubou a bola e lançou para Fred, que entrou sozinho e bateu para fora. Aos 31,
Neymar deu um passe perfeito para Fred e deixou-o sozinho na frente de
Casillas, mas o centroavante do Fluminense perdeu o gol. Aos 40, a Espanha
finalmente conseguiu encaixar uma troca de passes ao seu estilo. Pedro
ingressou livre na área e desviou de Julio Cesar.
A
bola ia entrando, quando David Luiz apareceu de algum lugar, atirou-se na bola,
as melenas esvoaçando, e a bola saiu por cima da goleira. O Maracanã vibrou
como se fosse um gol e gritou em coro:
–
David! David! David!
Três
minutos depois, Neymar decolou pela esquerda e chutou com... Fúria: 2 a 0.
O
clima no estádio deixava claro que a virada espanhola era improvável. Tornou-se
impossível logo a um minuto e meio do segundo tempo, quando Fred fez 3 a 0. A
torcida estava enlouquecida:
–
Ah, o Maraca é nosso! – É campeão! É campeão! – Quer jogar? Quer jogar? O
Brasil vai te ensinar! E cantavam o Hino. Cantavam o Hino com sanha ufanista.
Não
arrefeceram nem quando Marcelo cometeu pênalti aos oito minutos. Parece que sabiam
o que ia acontecer: Sergio Ramos bateu fraco para fora. Aos 22, Piqué fez falta
em Neymar e foi expulso. Aí o Brasil passou a tocar a bola. Fez com a Espanha o
que a Espanha gosta de fazer com os outros: colocou-a na roda. E a torcida:
–
Olé! Olé! Olé! A Espanha levando olé. A Espanha sendo toureada. A Espanha era o
touro. Mas não um touro furioso. A fúria, na noite deste 30 de junho no
Maracanã, era brasileira.
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