09
de setembro de 2012 | N° 17187QUASE PERFEITO |
Fabrício
Carpinejar
Envolvimento demais
“Tenho
31 anos, sou profissional liberal bem-sucedida, culta, bem-humorada. Meu
relacionamento terminou há quatro meses, quando pressionei meu namorado para
alugarmos um apartamento. Ele confessou não estar pronto. Era uma pessoa muito
ligada à mãe. Abraços, Magda”
Querida
Magda,
Não
sei se isso é uma pergunta ou uma propaganda pessoal. Você está extremamente
partidária de si. Numa campanha eleitoral ostensiva. Nunca errou, pisou na
bola? Aparece pregando suas virtudes, o que provoca uma severa desconfiança do
eleitorado.
Quem
se elogia antes não oferece espaço para elogio depois. Acho que somente espera
que eu concorde com sua vitimização, mas vamos pensar juntos. Quando tememos um
amor, ele fica. Quando desejamos desesperadamente um amor, ele some.
Temer
é viver a dúvida, a inquietação, ouvir o contraponto com interesse. Já ambicionar
o casamento antes do amor é atropelar o namorado com nossa ansiedade. Está tão
faminta de uma relação que não sente o sabor das pequenas ofertas.
Sua ânsia
de se estabelecer rapidamente (e encontrar um parceiro à altura de seus
predicados) aniquila qualquer relacionamento. Cheira como um golpe, trote,
insanidade. A decisão de morar junto deve ser conjunta, senão haverá recaída
logo mais adiante. Se ele diz que não está pronto, não estava brincando. Tanto
que acabou. É como alguém disposto a acampar enquanto você anseia o conforto do
quarto de um hotel.
Quando
o primeiro pressiona, e o segundo resiste, é um sinal de desentendimento futuro.
Não iria mudar sua mentalidade, ou vencer o concurso materno com a sogra. No
amor honesto, é mais fácil desistir de nossas convicções do que convencer o
outro. Minha dica: use talheres e guardanapo, pare de comer com as mãos.
Sem
envolvimento
“Resolvi
não me envolver com mais ninguém, mas não consegui. Estou saindo com um cara há
quatro meses. Ele deixou claro que não vai se envolver, e eu aceitei. Não começamos
e por isso não temos como terminar. Todos me orientam para sair dessa: mãe,
amigas. Beijo, Penélope”.
Querida
Penélope,
Amor
não é contrato onde rubricamos cláusulas ou respeitamos promessas logo na
entrada. Dizer que não vai se envolver é o mesmo que pedir em casamento de cara.
A mesma arbitrariedade. A mesma ditadura. A mesma falta de senso. O mesmo
assalto.
Estabelecer
regras do jogo antes de jogar é constranger a namorada. Entendo que tenha
concordado, fingido desinteresse. Entendo que é um modo de não pressionar.
Mas
ele usará suas palavras contra você. Sua expectativa é que ele mude de opinião
e confesse que a ama para seguir com aquilo que realmente se propõe (um namoro
sério). Sofrerá todos os encontros aguardando a declaração amorosa libertadora.
Criou uma dependência desnecessária. Uma fissura que prejudica o entendimento
dos fatos.
Está
empenhada em alcançar um fim, e é natural desprezar o andamento ou não se ligar
com detalhes importantes da aproximação. É um blefe. Todo blefe custa caro. Como
não há como ganhar com sua verdade, ele precisa perder. Torce para que ele
morda a língua e assim não ser derrotada. O fracasso dele é sua vitória. O êxito
dele é seu fiasco.
Quando
o sujeito confessa que não deseja se envolver não é franqueza, é cara-de-pau. Nas
entrelinhas, está avisando o seguinte: terá que me agradar muito para me
conquistar. Ele lava as mãos para que trabalhe dobrado pela relação. Ele apenas
quer receber e ser mimado. É o escravagismo do silêncio.
Abolição
já!
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