quinta-feira, 7 de junho de 2012


Pasquale Cipro Neto

"Alcaguete, alcagueta, caguete..."

 Sabe qual é a origem de "alcaguete"? Recorramos ao "Houaiss", que diz que o termo vem do espanhol...

NÃO HÁ CPI que não produza pérolas e pérolas. A "do Cachoeira", que está na crista da onda, já produziu as suas -e haverá de produzir outras.

Antes de citar uma dessas pérolas, lembro que essa coisa de usar o artigo definido antes de nomes próprios é típico da linguagem informal de algumas regiões do país. Em São Paulo, por exemplo, diz-se "aquele romance do Machado", "um poema do Drummond", "aquela música do Caetano" etc. No Nordeste, some o artigo, ou seja, o romance é "de Machado", o poema é "de Drummond", e a música é "de Caetano".

Quem tem razão? Todos, é óbvio -isso quando se trata da linguagem informal, espontânea. Em se tratando da linguagem formal, nomes próprios são usados sem artigo. Num texto técnico, científico ou jurídico, num ensaio literário ou num editorial de jornal, por exemplo, não se leem construções como "o governo do Juscelino", "a obra do Machado" ou "a poesia do Drummond". Nesses casos o que se vê é o nome próprio sem artigo ("o governo de Juscelino", "a obra de Machado", "a poesia de Drummond").

Pensando bem, por mim a CPI não seria "do Cachoeira"; seria "da cachoeira" (da cachoeira de barbaridades, de sem-vergonhices, de falcatruas, desfaçatezes e outras tantas evidências do nosso eterno atraso como "república").

Mas voltemos à CPI "do Cachoeira", como a batizou a imprensa. Dia desses, o senador Demóstenes Torres bradou aos quatro ventos que não é "alcagueta". Se o caro leitor fizer uma rápida pesquisa no Google (escreva "Demóstenes alcagueta"), verá que em sites que comentaram a declaração do venerável senador ora se lê "alcagueta" (como disse Demóstenes) ora se lê "alcaguete". Os dicionários registram as duas formas e ainda uma terceira, "caguete".

Nos tempos de infância, na minha querida e adorada República da Mooca, o delator não era nem "alcagueta" nem "alcaguete", muito menos "caguete"; era "cagueta" mesmo.

Como o termo me parece já fora de moda (tanto numa das versões dicionarizadas quanto na de uso popular), chego a duvidar de que o nobre senador tenha sido compreendido pela maioria. Além disso, fico me perguntando como leram a palavra os que não ouviram o senador, mas leram a declaração nos jornais e sites que a publicaram.

Sim, caro leitor, é lá mesmo que quero chegar. Com a morte compulsória do trema, decretada pelo "(Des)Acordo Ortográfico", quem não conhece certas palavras não sabe como pronunciá-las. Como se lê "quiproquó", por exemplo? O primeiro "u" é pronunciado? Sim, caro leitor. Esse "u" recebia trema antes do "(Des)Acordo". Os dois "us" são pronunciados, mas obviamente só o primeiro recebia trema. Na linguagem informal, o que se ouve mesmo é "kiprocó". Bem, um quiproquó é uma "confusão em que se toma uma coisa por outra", de acordo com o "Aulete".

E o bendito "alcagueta", vociferado por Demóstenes? Lê-se o "u"? Sim, o "u" é lido, tanto nessa forma, quanto nas outras ("alcaguete", "caguete" e a popular "cagueta").

Sabe qual é a origem de "alcaguete"? Recorramos ao "Houaiss", que diz que o termo vem do espanhol "alcahuete", que, por sua vez, vem do árabe "al-qawwad", que significa... Elaiá! Significa "alcoviteiro" (modernamente "cáften", que, na boca do povo, lá na Mooca e em todo o Brasil, vira "cafetão"). Quem serão as prostitutas que ficam sob a "égide" desses cafetões? Sabe Deus! E que Deus nos proteja! É isso.

inculta@uol.com.br

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