quinta-feira, 7 de junho de 2012


Janio de Freitas

O engano de enganar

 Em vez de esconder, é preciso mostrar o quanto é difícil, no Brasil, tocar em interesses de qualquer das forças que compõem o poder econômico

O GOVERNO se divide, seus congressistas também: é melhor apressar para antes da Rio+20 ou adiar, para depois da conferência, o exame das mais de 600 emendas que os ruralistas apresentam ao Código Florestal, em reação aos 12 vetos de Dilma Rousseff no texto aprovado. Trata-se, porém, de mais do que divergência de táticas possíveis.

É o traço de hipocrisia presente e influente, aqui, sem distinção de classe e de lugar. A preferência por aparentar o que não é. Costume a que o país nada deve de bom.

Deixar que se mostre aos visitantes a reação do Congresso, contrária a avanços na defesa do meio ambiente e do patrimônio natural brasileiro, é a única atitude honesta e inteligente. Tentar tapeá-los é inútil.

Assim que o Congresso se ocupe das emendas e seu teor tétrico, os presentes à conferência, já de volta a seus países, logo terão conhecimento do que se passa em Brasília. Europeus, americanos e asiáticos fazem pouco em defesa da Terra, mas falam muito a respeito e acompanham tudo.

Em vez de esconder, é preciso mostrar aqui mesmo e no exterior o quanto é difícil, no Brasil, tocar em interesses de qualquer das forças que compõem o poder econômico.

Caso dos ruralistas, para os quais não houve, ainda, legislação capaz de detê-los na invasão de imensidões do Estado, em reservas indígenas, em áreas de proteção permanente definidas por lei, e no desmatamento criminoso.

Breve ilustração: os levantamentos mais recentes indicam que Mato Grosso perde mais 19% da cobertura florestal; em Rondônia, o desmatamento aumentou 99%.

As leis vigentes há muito tempo, ou seja, à parte o novo e incerto Código Florestal, dão ao Estado os instrumentos para reprimir e punir esses crimes todos.

Tudo comprova que não acontece uma coisa nem outra. Os vencidos são o Estado e a lei.

O pacote ambiental lançado por Dilma Rousseff, às vésperas da Rio+20, seguiu o mesmo vício das aparências, da imagem.

As medidas que o compõem poderiam estar assinadas há muito tempo. Exceto a que contraria posição anterior da própria presidente, quando de sua defesa intransigente do sacrifício florestal, fluvial e humano (indígenas e famílias rurais) para construção de hidrelétricas nos rios Madeira e Xingu.

O pacote, pelo menos, trouxe medidas importantes.

Greves de professores se multiplicam no país.

Os docentes das universidades federais estão em greve desde 17 de maio. A UERJ, estadual, decidiu-se pela greve a partir de segunda-feira. Na Bahia, a greve de professores já vai para 60 dias.

Em país onde se fala de educação com e sem motivo, greves de professores são uma condenação explícita aos respectivos governantes.

Educação com professores precisando fazer greve para atenuar suas precárias condições de trabalho e de vida é farsa. Continuação de séculos de farsa.

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