Janio
de Freitas
O engano de
enganar
Em vez de esconder, é preciso mostrar o quanto
é difícil, no Brasil, tocar em interesses de qualquer das forças que compõem o
poder econômico
O
GOVERNO se divide, seus congressistas também: é melhor apressar para antes da
Rio+20 ou adiar, para depois da conferência, o exame das mais de 600 emendas
que os ruralistas apresentam ao Código Florestal, em reação aos 12 vetos de
Dilma Rousseff no texto aprovado. Trata-se, porém, de mais do que divergência
de táticas possíveis.
É o
traço de hipocrisia presente e influente, aqui, sem distinção de classe e de
lugar. A preferência por aparentar o que não é. Costume a que o país nada deve
de bom.
Deixar
que se mostre aos visitantes a reação do Congresso, contrária a avanços na
defesa do meio ambiente e do patrimônio natural brasileiro, é a única atitude
honesta e inteligente. Tentar tapeá-los é inútil.
Assim
que o Congresso se ocupe das emendas e seu teor tétrico, os presentes à
conferência, já de volta a seus países, logo terão conhecimento do que se passa
em Brasília. Europeus, americanos e asiáticos fazem pouco em defesa da Terra,
mas falam muito a respeito e acompanham tudo.
Em
vez de esconder, é preciso mostrar aqui mesmo e no exterior o quanto é difícil,
no Brasil, tocar em interesses de qualquer das forças que compõem o poder
econômico.
Caso
dos ruralistas, para os quais não houve, ainda, legislação capaz de detê-los na
invasão de imensidões do Estado, em reservas indígenas, em áreas de proteção
permanente definidas por lei, e no desmatamento criminoso.
Breve
ilustração: os levantamentos mais recentes indicam que Mato Grosso perde mais
19% da cobertura florestal; em Rondônia, o desmatamento aumentou 99%.
As
leis vigentes há muito tempo, ou seja, à parte o novo e incerto Código
Florestal, dão ao Estado os instrumentos para reprimir e punir esses crimes
todos.
Tudo
comprova que não acontece uma coisa nem outra. Os vencidos são o Estado e a
lei.
O
pacote ambiental lançado por Dilma Rousseff, às vésperas da Rio+20, seguiu o
mesmo vício das aparências, da imagem.
As
medidas que o compõem poderiam estar assinadas há muito tempo. Exceto a que
contraria posição anterior da própria presidente, quando de sua defesa
intransigente do sacrifício florestal, fluvial e humano (indígenas e famílias
rurais) para construção de hidrelétricas nos rios Madeira e Xingu.
O
pacote, pelo menos, trouxe medidas importantes.
Greves
de professores se multiplicam no país.
Os
docentes das universidades federais estão em greve desde 17 de maio. A UERJ,
estadual, decidiu-se pela greve a partir de segunda-feira. Na Bahia, a greve de
professores já vai para 60 dias.
Em
país onde se fala de educação com e sem motivo, greves de professores são uma
condenação explícita aos respectivos governantes.
Educação
com professores precisando fazer greve para atenuar suas precárias condições de
trabalho e de vida é farsa. Continuação de séculos de farsa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário