quinta-feira, 7 de junho de 2012



07 de junho de 2012 | N° 17093

ARTIGOS - Maria Celeste*

Compaixão e compromisso

Mês de junho, trazemos uma reflexão acerca do sentimento que inspira poetas e eleva a alma. Saint-Exupéry, em sua obra O Pequeno Príncipe, nos diz: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Lembramos assim a responsabilidade que assumimos quando estabelecemos relações, em todos os níveis. Avançar do enamoramento inicial para um sentimento maduro exige comprometimento.

Exige sair de si para ver o outro como é, e não como espelho, desfazendo fantasias e idealizações. Falamos assim de uma forma de amor que além do romantismo envolve a abertura ao outro, a cumplicidade e a disposição a ir muito além de si e agir de forma coerente com esse compromisso.

O amor é também compaixão. Esse é um conceito pouco conhecido em nossa cultura, trazido pelas religiões orientais, sendo base no ensinamento budista. É diferente de sentir piedade, é muito mais do que isso.

Na piedade, há uma desigualdade. Na compaixão, sabemos que nós e o outro somos parte de um Todo, por isso há uma profunda empatia. É verdadeiramente comover-se com a dificuldade do outro e alegrar-se com sua felicidade.

Essa atitude permite ir além do sentimento exclusivo de uma relação amorosa e nos transformar interiormente, através da percepção de que quando existe sofrimento, desigualdade, exploração... sofremos todos, de forma consciente ou não. A partir do sentimento profundo de empatia, o compromisso é uma consequência.

Atualmente, estamos trabalhando em Porto Alegre com a revisão do Código de Posturas, lei de 1975, para a criação de um Código de Convivência, agregando em nossa legislação municipal os valores do respeito, da solidariedade e da convivência democrática. Esse processo propõe um olhar atento sobre a vida cotidiana nas cidades, com vistas à regulamentação para promover a cidadania e o respeito a todos, reconhecendo as diferenças.

Precisamos muito desse grau de comprometimento em nossas políticas públicas e na relação com a população, incluindo a ação do Executivo. Transformar relações que historicamente são de trocas e interesses por relações de respeito e promoção do outro.

Para isso, a abertura ao diálogo e ao conhecimento da realidade social são condições fundamentais. A partir dessas condições e da atitude ética de respeito e empatia, aprendemos a construir com as diferenças, buscando transformar também o paradigma competitivo, em que estamos inseridos, em relações de respeito e promoção social em todos os níveis.

*Vereadora em Porto Alegre

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