sexta-feira, 1 de junho de 2012


Jaime cimenti

Nas fronteiras dos silêncios e das revelações

A superfície da sombra é o romance mais recente do consagrado escritor, jornalista e roteirista gaúcho Tailor Diniz, nascido em 1955. Autor de 11 livros publicados, Tailor recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura 2007 e o Prêmio Associação Gaúcha de Escritores 2007 por Transversais do tempo (Bertrand, 2007). Seu romance mais recente, Crime na Feira do Livro (Dublinense), foi finalista do Prêmio Açorianos 2011 como narrativa longa.

Como roteirista escreveu, entre outros, os curtas Terra Prometida, que ganhou, em 2006, o prêmio de Melhor Filme nos festivais de cinema de Gramado e de Brasília, e Rolex de Ouro, também baseado em um conto seu, que recebeu o prêmio de Melhor Filme na mostra gaúcha do Festival de Cinema de Gramado. A superfície da sombra foi escrito, com muita habilidade, em terceira pessoal do singular e em primeira pessoa do singular. Os focos narrativos se alternam e proporcionam movimento e leitura prazerosa.

O romance é um verdadeiro vira-página, e foi escolhido para publicação pelo Conselho Editorial da Editora Grua entre 194 livros inscritos. A narrativa se inicia em meio à ação - in media res - com um homem saindo de Porto Alegre rumo a uma cidade que faz fronteira com o Uruguai. Ele viaja sozinho, com seus silêncios e segredos, que os leitores vão desvendar, ao menos em parte, ao final da história.

Depois de dirigir uma noite pelo pampa, ele encontra uma moça, Blanca Lúcia, filha de Adèle, que faleceu poucas horas antes. Adèle o mandara avisar de sua morte, pouco antes de partir. Entre luzes e sombras, palavras em português e castelhano, silêncios eloquentes e um denso clima de fronteira, a narrativa se desenvolve e envolve o leitor.

Tailor trabalhou extremamente bem o silêncio, um dos grandes personagens do livro. Antonio, o protagonista, em meio a uma trama que se desenrola à sua revelia, entre outros lances, compra uma faca e participa da Noite das Mascaradas, um antigo ritual pagão para trazer boa sorte.

Entre as ruas dos dois países caminham as sete viúvas da Calle de los Desenganos, que rezam pelas almas dos desamparados. Com grande destreza narrativa, e adequada economia de personagens, cenas e palavras, descrevendo os sons e as palavras do silêncio como poucos, Tailor traz uma história sedutora, com palavras, pausas, mortes, e toques sobrenaturais, revelando bem mais que um mero romance de fronteira.

“Ainda não me havia dado conta de que a superfície da sombra é a superfície das coisas”, diz o protagonista, no início.  Na epígrafe, diz Adolfo Bioy Casares: El verdadero estorbo es la imaginación. Grua Livros, 160 páginas.

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