06
de junho de 2012 | N° 17092
LITERATURA
De loucura e de sombras
Tailor
Diniz autografa hoje romance ambientado na região da fronteira gaúcha com o
Uruguai
Quando
loucura e lucidez não têm fronteiras nítidas, é perigoso seguir as sombras. Esse
é o mote de fundo de A Superfície da Sombra, novo romance que o escritor Tailor
Diniz autografa hoje, às 19h, na Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country.
E m
A Superfície da Sombra, o protagonista, um escritor de nome Antônio, residente
em Porto Alegre, viaja a uma fictícia localidade na fronteira do Uruguai. Duas
cidades-gêmeas, Poblado Oriental, no Uruguai, e Passo do Cati, no Brasil, são
separadas apenas por uma avenida localizada na fronteira.
De tão
próximas, ambas vivem uma existência comum à margem de trâmites diplomáticos. Como
se fossem uma só localidade, os moradores cruzam de um lado para outro
tranquilamente, mas uma carta enviada para o outro lado pode demorar um mês
para ser entregue, porque precisará ser remetida para o centro de alguma das
duas nações e voltar.
Antônio
foi chamado a Poblado Oriental por uma antiga paixão, Adèle, à beira da morte. Chega
tarde, à cidade, no entanto, e é recebido apenas pela filha da recém-falecida,
a bela e misteriosa Blanca Lucía. Duplamente estrangeiro numa comunidade em que
todos parecem conhecer os desvãos mais íntimos da vida dos outros, Antônio
percorre a cidade, vai ao enterro da amiga, acompanha Blanca Lucía a alguns
compromissos. A narrativa o segue de perto, ora em primeira pessoa, ora em
terceira.
A
cada mudança de foco, o não nomeado narrador “de fora” desvela algo que Antônio,
em sua inconsciência, parece não notar ao relatar os próprios movimentos– entre
outras coisas, o fato de que sua chegada aparentemente colocou em marcha forças
obscuras que se organizam contra ele.
Se
tal recurso narrativo por vezes soa repetitivo, ao reapresentar as mesmas cenas
mais de uma vez, seu saldo final é positivo por dar ao livro um tom sólido de
suspense. Diniz vem enveredando de modo consistente pela literatura policial
nos últimos anos – seu romance anterior, Crime na Feira do Livro, era um
folhetim detetivesco em meio ao principal evento literário de Porto Alegre. Na época
de seu lançamento, o autor comentou que o romance havia se beneficiado de
leituras e pesquisas sobre a estrutura da narrativa de gênero.
Esse
apanhado teórico pode ter deixado suas marcas também em A Superfície de Sombra.
Embora não seja um policial – o que Crime na Feira do Livro declaradamente era –,
a história se constrói na pintura de uma atmosfera de suspense em que, sob cada
parágrafo, espreita uma sensação de ameaça ao protagonista, conhecida pelos
moradores da cidade – e, por tabela, pelo leitor – mas ignorada por ele próprio.
Assim
como a narrativa se localiza num território geográfico de fronteira, também Antônio,
o protagonista, se movimenta entre fronteiras metafóricas: as mais nítidas
delas entre o sonho e a vigília (quando não está descobrindo a cidade, Antônio
dorme longos períodos fora de hora) e entre a sanidade e a loucura – mesmo
alertado de que corre perigo, ele parece navegar incerto pelas duas cidades,
que em seu espelhamento refletem a dubiedade dos moradores do local.
carlos.moreira@zerohora.com.br.
A
SUPERFÍCIE DA SOMBRA
De
Tailor Diniz
Romance.
Grua, 160 páginas, R$ 32,50. Sessão de autógrafos hoje, às 19h.
Livraria
Cultura (Bourbon Shopping Country, Avenida Túlio de Rose, 80)
Onde
estacionar: O shopping tem estacionamento próprio
O
livro: Na tentativa de um último contato com uma antiga namorada moribunda,
homem chega a duas misteriosas cidades de fronteira.
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