06
de junho de 2012 | N° 17092
DIANA
CORSO
Uma princesa guerreira
Por 200
anos, Branca de Neve sobreviveu na imaginação das crianças, fiel ao relato dos
irmãos Grimm, pouco alterado por Disney. Essa história adormecida, sem nunca
ter perdido as cores, pode-se dizer que acaba de ser novamente beijada.
2012
foi o ano da ressurreição da princesa morena, dois filmes a despertaram. Mas,
desta vez, ela foi chamada à ação: em Branca de Neve e o Caçador, de Rupert
Sanders, ela tornou-se uma princesa guerreira.
Essa
trama confirma uma antiga suspeita: que a nova Rainha, a feiticeira Ravenna,
assassinara o Rei. A enteada foi mantida prisioneira até que, como na história
clássica, o espelho revele sua beleza. Agora a malvada não quer apenas matá-la
e comer seu coração. A feiticeira Ravenna mantém-se linda e desejável,
vampirizando a juventude de jovens súditas.
Branca
de Neve é especial, pois lhe conferirá a vida eterna. Ao fugir, a princesa é ajudada
por um cavalo branco, sem príncipe.
Quando
desperta de seu sono enfeitiçado, não é para casar, é para liderar as tropas
que derrotarão sua rival e salvar o reino aterrorizado pelo domínio nefasto de
Ravenna. Já o Caçador é um jovem viúvo atormentado, que se culpa pela morte da
esposa. Ele protege a moça paternalmente, lhe ensina a lutar, mas se apaixona
por ela. Ressurge também um amor infantil, William, que também é seu dedicado e
apaixonado cavalheiro. Só que a princesa tem mais o que fazer.
Muitas
princesas sobreviveram ao esquecimento, várias conseguiram a juventude eterna. Branca
de Neve foi a primeira a inaugurar um novo cânone: a princesa cantora de
desenho animado. Só podia ser ela, novamente, a revolucionar o nicho das
princesas clássicas: o amor não é mais o final feliz.
O
que permanece? O fato de que crescer é tornar-se órfão. Nos contos de fadas, a
mãe amorosa morre rápido (quando, na verdade, é o filho perfeito que sucumbe,
assim que começa a crescer e aparecer). É aí que madrastas e bruxas são
convocadas para representar os conflitos normais do desenvolvimento.
E
mais, a mulher terá que desbancar a mãe, cuja juventude fenece esperneando,
superá-la em encantos. Deverá a seu modo matá-la, apropriar-se dos atributos
femininos. Esse conflito alimenta a paixão das meninas por histórias de
princesas e bruxas.
O
que não tinha como sobreviver? A ideia de que a vida de uma mulher tem o ápice
no casamento. Da revolução de costumes dos anos 60, da libertação da tristeza
pelos horizontes estreitos do lar, veio a certeza de que elas querem mais. Para
nós, liderados por uma presidenta guerreira, não é uma surpresa.
Correção
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