04
de junho de 2012 | N° 17090
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Gregos e seus
impostos
Aquestão
grega comporta, pelo menos, duas inevitáveis classes de reflexões: a econômica
e a simbólica.
Quanto
à questão econômica, é fácil ver o que acontece: asfixiada por determinações
europeias centralizadoras, que a todo custo querem salvar o euro, não
importando os custos daí decorrentes, a Grécia vive uma situação de desespero.
Mais dia, menos dia, esse quadro pode resultar num processo autofágico que faz
pensar na quebra geral de seu sistema, levando o país, inclusive, à
invisibilidade política.
A
questão simbólica, entretanto, pode ser ainda mais grave do que a econômica,
pois implica a perda da memória da Grécia enquanto entidade cultural perante os
povos.
Alguns
episódios em sequência mostram um país de joelhos, e que busca, na voz de seus
pensadores, entender a grande culpa dos gregos, os quais levaram a França do
Sr. Sarkozy e a Alemanha da Sra. Merkel a, sob o manto do FMI, chamarem o Sr.
Giorgios Papandreou para uma conversa; nesse diálogo, com jeito de monólogo,
ambos, Sra. Merkel e Sr. Sarkozy, proibiram o mandatário grego de realizar o
plebiscito pelo qual ele pretendia saber se seu povo estava disposto a aceitar
o plano de auxílio internacional que lhe impunham – com suas terríveis
consequências sociais, naturalmente.
O
resultado, sabe-se, foi o recuo da Grécia, com grave ofensa à sua soberania e
gravame à sua autoestima.
Cruamente:
a Europa, que aprendeu a democracia com os gregos, impediu que a Grécia a
praticasse.
Outro
episódio, patético e estarrecedor, envolve uma declaração da Sra. Christine
Lagarde, de que “os gregos devem mais é pagar seus impostos”.
Temos
então as seguintes hipóteses excludentes: ou todos os gregos são sonegadores ou
o conselho da diretora-gerente do FMI está fora da realidade.
Esqueçamos
que o salário da Sra. Lagarde é isento de impostos e fiquemos na raiz do
simbolismo: é extraordinário que essa dama, formada na cultura republicana
francesa, esquecida de que seu país realizou uma Revolução atualizadora do modo
de entender a vida pública, pense e diga uma impropriedade dessa envergadura.
Como
a moda são os cínicos e lacrimosos pedidos de desculpas públicas, eis aí uma
bela sugestão. Não que isso venha a mudar alguma coisa de concreto, mas seria
reconhecer que os 3 mil anos de História da Grécia podem valer um pouco mais do
que os 55 anos de idade da Sra. Lagarde.
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