quarta-feira, 2 de outubro de 2013


02 de outubro de 2013 | N° 17571
LUCIANO ALABARSE

Romances policiais

Domingo desses, lendo a Revista O Globo, do jornal homônimo, meus olhos se encheram de lágrimas. Lia o depoimento materno sobre o incidente que paralisou um voo da Gol, de Salvador em direção ao Rio de Janeiro. A tripulação simplesmente se recusou a decolar, e o motivo era a presença perturbadora – para eles – de Theo, menino de apenas três anos que nasceu com “epidermólise bolhosa”, raríssima doença de pele que precisa vigilância e cuidados permanentes.

Mesmo com atestado médico comprovando ser uma doença não transmissível nem contagiosa, não houve argumento que os convencesse. Acontece que, para azar deles, Theo é neto de Deborah Colker, uma das artistas mais importantes da dança brasileira, e que, ao lado do neto no avião, não deixou barato.

A companhia vai ser processada, como corresponde. Clara Colker, a mãe do menino, conta que, ao se dar conta do que acompanharia Theo pelo resto da vida, se deu uma única ordem: “Vambora!”. Sua luta contra o preconceito em relação à doença do filho é uma lição. Meu choro tinha como trilha um velho CD do Velvet Underground, aquele da capa do Andy Warhol, e a companhia do céu instável de um domingo chuvoso.

Troquei a leitura do jornal por A Condição Humana, da Hannah Arendt, mas empaquei. Parei para chorar outro choro. Um choro cívico. Lágrimas metafóricas constatavam, mais uma vez, que lei no nosso país é coisa para os pobres. Os embargos infringentes do Supremo, legitimados por argumentações técnicas e sofisticadas, me acertaram como um certeiro soco no rim.

Sequei o choro real, mudei o disco e vi a noite chegar lendo O Fator Scarpetta, série protagonizada pela patologista forense Kay Scarpetta, da americana Patricia Cornwell, leitura obrigatória nas minhas noites de sono entrecortado. Levantei da cama e contei na estante: exatos 17 livros debruçados sobre o universo dos crimes hediondos que a cercam.

Entre cadáveres e serial killers horripilantes, Scarpetta não dá mole. Tantos anos depois, os personagens me parecem queridos amigos, desses de quem gostamos de receber notícias. Pete Marino, o detetive pavio curto, desbocado e homofóbico; Luci Farinelli, a sobrinha milionária, lésbica e viciada em computação; Benton Wesley, especialista em perfis psicopatas assustadores, um chato de galocha.


Para que não restem dúvidas: adoro e devoro romances policiais. Amigos chegados pegam no meu pé por causa disso, não acreditam que esteja falando sério, mas estou. Quem nunca leu Jo Nesbo, Arnaldur Indridason e Dennis Lehane não sabe o que está perdendo. Jorge Luis Borges encabeça uma seleta listinha de fãs do gênero em que Eleonora Rizzo e Sandra Dani resplandecem em lugar de destaque.

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