ELIO
GASPARI
Francisco lavará a alma do
Brasil
Se
Deus é brasileiro, a visita do papa repetirá mensagem de fé da viagem de João
Paulo 2º à Polônia, em 1979
Faltam
duas semanas para a chegada do papa Francisco ao Rio. Ele mostrará ao mundo um
Brasil de fé, solidariedade, alegria e paz. Será a primeira viagem de um
pontífice que, em quatro meses de reinado, deu as seguintes lições:
1)
Pagou a conta da casa de hóspedes que o abrigou em Roma durante o conclave.
(Alô doutores Henrique Alves, Garibaldi Alves e Renan Calheiros com seus
jatinhos da Viúva.)
2)
Dispensou o apartamento pontifício de dez aposentos e continuou na Casa Santa
Marta, onde ficam os bispos que passam por Roma. (Alô Eduardo Paes, que em 2010
queria comprar para a prefeitura o palacete dos Guinle na rua São Clemente. Os
donos pediam R$ 10 milhões.)
3)
Livrou-se dos paramentos do regalismo medieval de Bento 16 e dos medonhos
sapatos vermelhos de seus antecessores.
4)
Nomeou uma comissão de cardeais para limpar a estrutura da Cúria e faxinou o
Banco do Vaticano.
5)
Confessou-se um pecador. (Alô Lula.)
O
papa Francisco chega ao Brasil com uma igreja livre de grandes divisões. Não
vem hostilizar prelados esquerdistas e, se há na hierarquia brasileira
discretos muxoxos (sobretudo por causa da faxina no Banco do Vaticano), eles
serão dissimulados. Se governantes estão com medo do que significará sua
visita, ainda têm tempo para ler a inutilidade do mal-estar dos comissários
poloneses quando João Paulo 2º anunciou sua visita a Varsóvia.
Centenas
de milhares de peregrinos hospedados em casas alheias celebrando a fé serão uma
santa lição num país onde o andar de baixo sabe dividir o que tem, enquanto no
de cima não querem nem pagar passagem de avião.
Durante
alguns dias acreditou-se que as multidões que foram às ruas nas últimas semanas
prenunciavam apenas badernas. Viu-se, contudo, que o povo como perigo é apenas
uma velha fantasia. Francisco mostrará o tamanho da fraternidade nacional, sem
caviar no camarote das autoridades.
Nos
últimos dias autoridades federais, estaduais e municipais que torraram bilhões
de reais na construção de estádios informaram que não têm dinheiro para cobrir
um buraco de R$ 90 milhões para custear despesas da Jornada Mundial da
Juventude. Gastaram R$ 1,2 bilhão no Coliseu do Rio. A viagem da doutora Dilma
a Roma para a coroação de Francisco custou perto de meio milhão. Pode-se
estimar que o governo federal torre perto de R$ 1 milhão por mês só na JetFAB.
De Brasília, saiu o temor de que Francisco seja hostilizado por manifestações
de evangélicos. É difícil, pois não há entre os evangélicos o sectarismo dos
comissários.
Dom
Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, é um homem de boa paz. Se tivesse
na alma a lâmina sertaneja de dom Eugenio Sales, mandaria um recado a Brasília,
ao governador Sérgio Cabral e ao prefeito Eduardo Paes: "Coletarei a ajuda
do povo na esquina da avenida Rio Branco com rua do Ouvidor." (Bastou uma palavra
de dom Eugenio a Fernando Henrique Cardoso para que fossem retirados soldados
armados das calçadas por onde passava João Paulo 2º.)
Os
dias do papa no Brasil serão jornadas de distensão, beleza e fraternidade, sem
comércio ou patrocínios. Acima de tudo, serão grátis. Cobrarão apenas fé para
aqueles que a têm.
PLEBISCITO
Para
os sábios que pretendem fazer uma reforma política plebiscitária, o repórter
Mauricio Puls fez a seguinte conta:
Em
1993 realizou-se um plebiscito para que o eleitorado escolhesse entre Monarquia
e República, com a alternativa parlamentarista. Só isso, coisa simples.
Votaram
na República 43,9 milhões de eleitores. Deles, 36,7 milhões preferiram o regime
presidencialista.
Sobraram
7,2 milhões de votos. Pela lógica, esses votos teriam ido para o
parlamentarismo.
Não
fecha. O parlamentarismo teve 16,4 milhões de votos. Admita-se que uma parte
deles sufragava a sua modalidade monárquica. Não fecha, de novo, porque a
Monarquia teve 6,8 milhões de votos.
Sobraram
2,4 milhões de votos que não fazem sentido. Talvez fossem pessoas que quisessem
um parlamentarismo sem República nem Monarquia, ou Monarquia sem
parlamentarismo.
A
doutora Dilma sugere um plebiscito bem mais complexo. Talvez ela saiba como
fazê-lo.
POR
TRÁS
Atribui-se
a Lula a seguinte frase durante as manifestações de junho:
"Vamos
esperar para ver o que está por trás disso."
Em
abril de 1978, quando surgiu um estranho presidente no Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo, uma análise de sábios do Serviço Nacional de
Informações dizia que a "estratégia sindical" buscava "forjar
líderes regionais, alguns de influência nacional, através da propaganda maciça,
como é o caso de Luiz Inácio da Silva (Lula), que foi projetado do
obscurantismo para o 'vedetismo' jornalístico, tantas foram as publicações e
entrevistas envolvendo o seu nome".
A
MARQUETAGEM DOS MÉDICOS ESTRANGEIROS
Há
na proposta de importação de médicos estrangeiros um exemplo da opção
preferencial do governo pela empulhação, propondo coisas novas enquanto não
cuida das bobagens velhas da máquina burocrática.
A
doutora Dilma anunciou que pretende trazer "de imediato milhares de
médicos estrangeiros" para trabalhar em regiões carentes do país.
Isso
seria feito facilitando os exames dos candidatos e alocando-os por prazos fixos
em determinados municípios. Vá lá.
Veja-se
a legislação imposta ao médico formado no exterior que pretende trabalhar no
Brasil. Num exemplo hipotético, Alexandre Mercadante formou-se em medicina na
Universidade Harvard (a melhor dos Estados Unidos), trabalha no serviço de
cardiologia da Cleveland Clinic (um dos melhores do mundo). A certa altura
decidiu voltar para Pindorama. Não quer favor algum, quer apenas trabalhar na
sua terra.
Todas
as universidades exigem que apresentem seus diplomas e créditos. Nada mais
natural, porém diversas universidades federais somam outra exigência: a prova
de residência no Brasil. Se outro médico quiser vir pelo programa Revalida,
concebido pelo governo federal, essa exigência é geral.
Entre
a hora em que o doutor Alexandre Mercadante deixou seu emprego em Cleveland e
aquela em que obterá a revalidação do seu diploma podem passar seis meses ou
até mesmo um ano. Pergunta: nesse período ele viverá de quê? (Se o médico for
estrangeiro, a situação piora. Terá que ralar a concessão do domicílio
permanente.)
Não
é nem o caso de dizer que o governo da doutora Dilma dificulta a vinda de
médicos estrangeiros. As máquinas das universidades e do governo federal
dificultam até mesmo a vinda de brasileiros. Fazem isso por pura onipotência
burocrática. Ganha uma residência hospitalar em Havana quem souber explicar por
que o médico precisa provar que mora no Brasil para dar entrada nos seus
papéis.
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