02
de julho de 2013 | N° 17479
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Eu sou
bonito
Parei
de pintar as unhas depois de sete anos. Parei de desenhar palavras na cabeça
depois de cinco anos. Parei de usar óculos coloridos de mosca depois de quatro
anos. Eu me escondia na extravagância, me ocultava com o exagero.
Ninguém
falaria direto de minha feiura porque enxergaria primeiro as unhas pintadas, em
seguida os cabelos estranhos, logo mais os óculos coloridos. O excesso de
informação me salvaria do deboche.
Matava
os olhos alheios pelo cansaço. Atravessei minha vida distraindo o interlocutor
com acessórios e disfarces. Ele não me via, ele me perdia com tanta coisa para
olhar.
Se
não havia jeito de anular o julgamento, complicaria o veredicto. Realmente me
protegia do desaforo na irreverência. Era uma tática de guerra contra o
bullying. Como não tinha como não chamar atenção, busquei dominá-la, direcionar
o alvo.
No
fundo, jamais resolvi minha timidez, apenas criei um personagem para mediar os
conflitos. Carpinejar foi meu amigo imaginário, Fabrício não passava de um
menino encabulado vestindo as fantasias coloridas do escritor.
Mas
cansei, não quero mais lutar contra a aparência, não pretendo mais combater
nada nem ninguém. Não é desistência, é aceitação de como sou. É serenidade. É
sabedoria da precariedade.
Desejo
a simplicidade, atrair o respeito tão somente pela voz e pelas ideias. A
alegria será a minha única loucura, o amor será meu único escândalo, a amizade
será a minha mais veemente alegoria.
É
óbvio que Juliana está sendo culpada pela transformação. Sempre a mulher do
sujeito é dita como a responsável pela metamorfose. Como se o homem carecesse
de personalidade para assumir suas escolhas.
Mas
ela não fez nenhum pedido. Não interferiu em absolutamente coisa alguma. Jamais
criou um pré-requisito ou estabeleceu uma condição para permanecermos juntos.
Sua
existência é que me modificou. A partir dela, não preciso mais mentir, ocultar,
distorcer, fingir, omitir, trapacear, exagerar. Não tenho o porquê de não me
apresentar inseguro e provisório.
Há
agora em mim a honestidade de se entregar por completo, e não se envergonhar
dos medos.
O
que posso dizer é que com Juliana eu me sinto finalmente bonito. Eu sou bonito.
Queria dizer que eu me acho bonito. E não guardo receio de que alguém pense o
contrário. Sou bonito. Meu espelho é a verdade, não mais a beleza.
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