terça-feira, 2 de julho de 2013

Eu não vi

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02 de julho de 2013 | N° 17479
DAVID COIMBRA

Eu não vi 

Não vi a baleia que apareceu na manhã de sábado na praia do Leblon. Fazia um dia de quase verão, de ar fino e luz radiosa. A praia estava cheia de mulheres dentro de biquínis sumários. Elas saíam da água reluzentes feito lontras, e ondulavam até a areia, onde se estendiam languidamente e se douravam ao sol. Os homens jogavam futevôlei ou tomavam cerveja. As crianças corriam da espuma das ondas.

E então ela surgiu. Nadou bem perto da praia, numa imponência serena. Deslizava sua majestade rumo ao Arpoador. Alguém gritou:  Uma baleia! E toda a praia se levantou e a baleia, como se estivesse se exibindo, jogou a enorme cauda para trás e com ela bateu vigorosamente na água, e os seres humanos, maravilhados, aplaudiram.

Foi lindo, lindo. Mas eu não vi. Cheguei um minuto depois e, ao perceber a agitação, quis saber o que havia acontecido. – Uma baleia bem ali – as pessoas apontavam para o mar, alegres com o espetáculo. – Bem ali. Foi lindo.

E eu não vi... Mas, horas depois, quando me dirigia ao Estádio do Maracanã, passava pela Lagoa e atirei o olhar para cima, para o cume do Morro do Corcovado, e suspirei ante a visão do Cristo Redentor de braços abertos. Suspirei, sim, encantado pela beleza do morro, da Lagoa e do Cristo que a todos abençoava, e naquele instante, para minha surpresa, quase espanto, o Cristo acendeu.

Acendeu. O Cristo inteiro, gigantesco, soberano, foi tomado por uma luz azul e pareceu alçar voo no céu do Rio de Janeiro. Foi lindo. E eu vi.

O Brasil de olhos esbugalhados

Gostaria de saber o que foi que Luiz Felipe disse para os jogadores do Brasil antes da partida com a Espanha. Seja o que for, fez com que eles entrassem em campo desvairados. Na hora de cantar o Hino, não o cantaram: gritaram. Eu olhava para a expressão do meu xará David Luiz e me assustava. Eles não iam para um jogo de bola, iam para a guerra.

Essa foi a diferença.

A Espanha entrou em campo para jogar futebol; era só mais um jogo para os espanhóis. Para os brasileiros, era a vida. Algo como os gregos defendendo a pátria contra o invasor persa na planície de Maratona. Havia muito mais persas, pelo menos dois persas para cada grego, senão mais, mas os gregos lutavam pelo seu lar, por suas famílias, pelo seu país. Os persas? Lutavam pela cobiça de seu rei. Os gregos venceram, é claro.

Os brasileiros, domingo, no Maracanã, foram para a luta. Os espanhóis foram para o jogo. Devem ter se espantado com o clima febril do estádio e com a vontade de vencer de cada jogador adversário. O que não torna menor a vitória brasileira. Ao contrário, ressalta os méritos do grupo. Essa é uma seleção capaz de se indignar ou de jogar por uma causa. É mais, muito mais, do que jogar pela cobiça do rei.

Obrigado, torcida

Depois que David Luiz surgiu como que cuspido do chão do Maracanã e atirou-se naquela bola que já estava entrando no gol brasileiro, e a bola subiu e, de forma inverossímil, passou por cima do travessão, para fora, e salvou-se o Brasil, depois daquele lance, 73 mil gargantas começaram a gritar:

– David! David! David!

Olhei para o Diogo Olivier, que estava sentado ao meu lado, e comentei:


– Eu sabia que um dia ia ouvir o Maracanã gritar isso.

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