01
de julho de 2013 | N° 17478
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Sobre o
plebiscito
Mais
uma semana terá decorrido quando for publicado o artigo que começo a escrever,
como de costume, na sexta-feira. E o que posso dizer é que pouco se clarificou
na matéria iniciada com a vaia ocorrida no Estádio Mané Garrincha com endereço
à senhora presidente da República. Ainda bem que se tornou pública a origem da
fórmula jogada ao espaço vazio do governo que a endossou.
Sabe
o leitor quantas emendas à Constituição de 1988 foram promulgadas sem
necessidade de nenhum plebiscito? Sem falar nas seis emendas de revisão, foram
72 as emendas aprovadas e para tanto bastou obedecer à própria Constituição em
seu art. 66. Ora, a senhora presidente da República e seu marqueteiro, ao que
parece, trouxeram de São Paulo a fórmula sonhadora, deixar de lado a
Constituição e recorrer a meios estranhos à tradição nacional, com a “vantagem”
de ser até agora imprevista e obviamente mais demorada.
Graças
ao expediente, a discussão está entre Constituinte e plebiscito e referendum...
Mas, da reforma política que todo o mundo diz ser necessária e a ela favorável,
não se diz o necessário para sequer situá-la no plano das ideias; o plebiscito
tomou conta de tudo ainda que o PIB não cresça, a indústria patine no pior
resultado no ano passado, e “Sob críticas, Dilma recua e desiste da
Constituinte” – “Sem apoio, Dilma desiste da Constituinte para reforma
política” – Esta decisão revela a leviandade com que problema dessa importância
é tratado.
Cancelada
a “Constituinte exclusiva” como se fosse de somenos é mantido o plebiscito
inexigido pela Constituição. Destarte, ignorando a Constituição, o plebiscito
ocupa o espaço que deveria ser o plenário das questões nacionais a serem
debatidas e analisadas, segundo sua importância, atualidade ou necessidade.
Mas
chegou o momento de indagar de que laboratório saiu o plebiscito e as demais
postulações lançadas pela senhora presidente. Sabe-se que foi depois de ela,
acompanhada de seu marqueteiro, ir a São Paulo entrevistar-se com seu
protagonista e antecessor. Foi depois que o prefeito de São Paulo anunciara a
decisão de não reduzir a tarifa dos transportes coletivos, e para salvar o
governo federal revogou a decisão anterior.
Como
divulgado, não se trata de nenhuma concepção elaborada no calor da crise; mas a
tábua redentora resultou de um congresso do PT de 2006 ou 2007, que indicava as
medidas agora apontadas como salvadoras e que ficaram postergadas para as
calendas gregas, permanecendo dormentes durante seis ou sete anos. Esse dado
deve ser apreciado ao lado do recuo da senhora presidente no tocante à
Constituinte negociada, “com líderes do Congresso e do Judiciário”, (sic)
segundo as manchetes das primeiras páginas dos maiores jornais do país.
Mas
nesta altura se percebe a armação cavilosa relativa à “corrupção que passará a
ser crime hediondo”, como leio na manchete de primeira página de Zero Hora da
semana finda; o leitor se agradará do alvitre porque a tisna da corrupção é
repelente à imensa maioria da população brasileira. É de salientar-se que só
agora a senhora presidente ficou a saber de que existe “corrupção” em seu
reino? E não me causará surpresa se metade do Código Penal venha a ser de
delitos hediondos.
Seria
bom parar com essas tolices, antes que as licenças oficiais venham a ser
consideradas crime hediondo e, assim, o feiticeiro morrer de seu próprio
feitiço.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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