sexta-feira, 8 de junho de 2012


Jaime Cimenti

Houllebecq de fraque, cartola e tênis

O mapa e o território, romance mais recente do polêmico escritor francês Michel Houllebecq, deu-lhe, pela primeira vez, nada menos que o prestigiadíssimo Prêmio Goncourt, principal láurea de literatura da França e que repercute internacionalmente. 

Houllebecq estava quieto havia cinco anos, depois de muito sucesso e estardalhaço com romances como Partículas elementares, Extensão do domínio da luta, de 1994, Plataforma e A possibilidade de uma ilha, os três últimos lançados no Brasil pela Editora Record. Muitos estão considerando

O mapa e o território como a obra-prima do mais celebrado autor francês da atualidade. O The Times não poupou elogios e classificou o escritor como o principal produto literário da França. Já o Financial Times registrou que o humor de Houllebecq é afiado como uma navalha, e o The Guardian mencionou que esse é o livro mais ambicioso do escritor brilhante e controverso, uma obra engraçada, surpreendente e autêntica.

Os elogios não são exagerados e partem, justamente, de ingleses. O protagonista, Jed Martin, é um pintor fictício que se torna milionário com retratos realistas de celebridades. Houllebecq aparece como personagem: é o escritor famoso que aceita escrever um ensaio para o catálogo de uma mostra de Martin e acaba assassinado no ponto em que a sátira se transforma em romance policial. Jed apenas murmura.

Se fosse contar sua história, falaria de um boiler enguiçado, do pai arquiteto bem-sucedido mas nada afetivo e de Olga, uma beldade russa e do retrato que fez de Houllebecq. No fim da vida, Jed só murmura. Com o Goncourt, o endiabrado Houllebecq virou “oficial”, e a crítica o aceita.

Mas é como se o escritor andasse de fraque e cartola mas de tênis nos pés. A polêmica segue. O francês é acusado de utilizar descrições de produtos, lugares e pesonalidades publicadas originalmente em sites, panfletos e reportagens.

A partir da narrativa de Houllebecq iniciou-se uma discussão quente sobre plágio e citação. Tem gente que diz que copiar de uma fonte só é plágio, e que copiar de várias é pesquisa. Meio por aí. Mas a sutileza, a ironia e força do texto falam de dinheiro, mercado de arte, trabalho, morte, amor e de lances das altas rodas literárias. A visão sobre a natureza humana é pessimista, como convém a um escritor “sério”, mas no final o leitor tem lá momentos de beleza, melancolia e compaixão.

Enfim, polêmica, toques sobre cultura, sociedade e arte contemporânea numa obra dão o que falar, oficial e extraoficialmente. Record, 400 páginas, tradução de André Telles.

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