Jaime
Cimenti
Houllebecq de fraque, cartola e tênis
O
mapa e o território, romance mais recente do polêmico escritor francês Michel
Houllebecq, deu-lhe, pela primeira vez, nada menos que o prestigiadíssimo Prêmio
Goncourt, principal láurea de literatura da França e que repercute
internacionalmente.
Houllebecq
estava quieto havia cinco anos, depois de muito sucesso e estardalhaço com
romances como Partículas elementares, Extensão do domínio da luta, de 1994,
Plataforma e A possibilidade de uma ilha, os três últimos lançados no Brasil
pela Editora Record. Muitos estão considerando
O
mapa e o território como a obra-prima do mais celebrado autor francês da
atualidade. O The Times não poupou elogios e classificou o escritor como o
principal produto literário da França. Já o Financial Times registrou que o humor
de Houllebecq é afiado como uma navalha, e o The Guardian mencionou que esse é o
livro mais ambicioso do escritor brilhante e controverso, uma obra engraçada,
surpreendente e autêntica.
Os
elogios não são exagerados e partem, justamente, de ingleses. O protagonista,
Jed Martin, é um pintor fictício que se torna milionário com retratos realistas
de celebridades. Houllebecq aparece como personagem: é o escritor famoso que
aceita escrever um ensaio para o catálogo de uma mostra de Martin e acaba
assassinado no ponto em que a sátira se transforma em romance policial. Jed
apenas murmura.
Se
fosse contar sua história, falaria de um boiler enguiçado, do pai arquiteto bem-sucedido
mas nada afetivo e de Olga, uma beldade russa e do retrato que fez de Houllebecq.
No fim da vida, Jed só murmura. Com o Goncourt, o endiabrado Houllebecq virou “oficial”,
e a crítica o aceita.
Mas é
como se o escritor andasse de fraque e cartola mas de tênis nos pés. A polêmica
segue. O francês é acusado de utilizar descrições de produtos, lugares e
pesonalidades publicadas originalmente em sites, panfletos e reportagens.
A
partir da narrativa de Houllebecq iniciou-se uma discussão quente sobre plágio
e citação. Tem gente que diz que copiar de uma fonte só é plágio, e que copiar
de várias é pesquisa. Meio por aí. Mas a sutileza, a ironia e força do texto
falam de dinheiro, mercado de arte, trabalho, morte, amor e de lances das altas
rodas literárias. A visão sobre a natureza humana é pessimista, como convém a
um escritor “sério”, mas no final o leitor tem lá momentos de beleza,
melancolia e compaixão.
Enfim,
polêmica, toques sobre cultura, sociedade e arte contemporânea numa obra dão o
que falar, oficial e extraoficialmente. Record, 400 páginas, tradução de André Telles.
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