CARLOS
HEITOR CONY
A cueca do poder
RIO
DE JANEIRO - Na redemocratização do Brasil depois do Estado Novo, o primeiro
deputado a ser cassado foi Barreto Pinto, que apareceu de cueca numa revista de
grande circulação nacional. Foi um escândalo.
Como,
de hora em hora, Deus piora, o decantado decoro parlamentar baixou a níveis
tais e tantos que uma cueca a mais ou a menos não causaria espanto. Não apenas
no dia a dia do Congresso, mas na vida pública em geral.
Um
ministro do STF acusou um ex-presidente de coação, sendo desmentido pela única
testemunha
de
um encontro que, em princípio, não deveria provocar um caso, a não ser pelos
antecedentes dos dois principais envolvidos.
O
ministro do STF tem um passado interessante. Advogado da União ao tempo da
Presidência de Fernando Henrique Cardoso, prestou tais e tantos serviços ao
poder que foi nomeado para o Supremo.
A
indicação criou perplexidade no meio jurídico, surgiram protestos veementes de
todos os lados e houve até mesmo o propósito de uma ação popular contra a sua
nomeação. O ministro foi acusado de abafar casos de corrupção daquele governo.
Por
sua vez, o ex-presidente da República, mesmo sem ter mais o poder de coação
oficial, não devia dar motivo para a acusação de ter pressionado um juiz não em
causa própria, mas no interesse de seu partido, réu notório do mensalão que
tanto prejudicou o seu primeiro governo. Negando a coação, não negou o encontro.
O
que fica evidente nesse disse me disse é o caráter cada vez mais político (e até
partidário) da Justiça em seu mais alto escalão. No fundo, uma briga entre PT e
PSDB envolvendo cabos eleitorais de alto coturno.
Ficamos
sabendo que pelo menos um dos juízes do escândalo já antecipou o seu voto,
contrariando a tradicional ética dos tribunais.
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