05
de março de 2015 | N° 18092
LUCIANO
ALABARSE
ARTE?
O
poeta Ferreira Gullar é também um respeitado especialista em artes plásticas.
Para ele, três urubus engaiolados, vivos e expostos à visitação pública, jamais
poderiam ser considerados “criação artística”. Sua crítica a essa “instalação”
me veio à memória ao ler que Gregor Schneider, artista premiado na Bienal de
Veneza, havia exposto, na frente do Volksbühne, um dos mais importantes teatros
da Alemanha, uma caçamba com os entulhos da casa onde nasceu o ministro nazista
Joseph Goebbels. Gregor havia comprado a casa em 2013.
Sem
aguentar o “peso histórico” da construção, pôs tudo abaixo: paredes, pisos,
telhados. Esses destroços, depois de exibidos em Varsóvia e Berlim, serão
abandonados em um depósito de lixo. Uns acharam genial. Outros, fraude
absoluta.
Para
quem viajou à Itália a fim de conhecer as obras de Caravaggio e esperou oito
horas, numa fila interminável, para ter acesso à retrospectiva parisiense de
Edvard Munch, ideias como essa parecem um atentado à inteligência. Sério.
Ao
conferir a exposição da arte indígena nas comemorações dos nossos 500 anos,
meus olhos se encheram de lágrimas. Deslumbramento absoluto. Logo depois, no
pavilhão dedicado à arte moderna brasileira, me vi diante de uma casinha de
cachorro com cordas penduradas em alturas diferentes. Dei uma meia-volta
olímpica. Voltei pros índios.
Em
Viena, vi Klimts epifânicos. Aproveitei para visitar uma exposição de “arte
degenerada”, onde artistas apresentavam obras, digamos, bizarras. No meio do
salão, um enorme cubo de vidro guardava pedaços de carne putrefata. Uma
quantidade imensurável de moscas voejava ao redor das postas.
O
que seria aquilo? Crua metáfora sobre a podridão da vida humana? Saí sem
entender. De volta ao Brasil, entrei numa biblioteca cheia de baldes que
tentavam conter as goteiras da chuva que invadia o interior do prédio. Estaria
eu diante de mais uma instalação de arte contemporânea, sem sensibilidade para
compreender tais encantos? Vai saber...
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