quarta-feira, 4 de março de 2015


04 de março de 2015 | N° 18091
MOISÉS MENDES

A lista limpa e a lista suja

Demorei a me convencer de que os empreiteiros têm duas listas de doações aos políticos. Empreiteiros são muito organizados. Uma lista é a do dinheiro limpo e a outra lista é a do dinheiro sujo.

Empreiteiros que repartiam obras e propinas com perfeição não iriam confundir a origem e a qualidade dos dinheiros. Por isso, alguns políticos estariam livres de qualquer suspeita, porque pegaram dinheiro limpo. E outros estão ralados, porque o dinheiro era sujo.

O dinheiro limpo, de obras com preço honesto, estava bem separado e foi repassado a políticos de vários partidos. Alguns receberam as doações diretamente, outros através das partilhas feitas pelos diretórios.

Já o dinheiro sujo vinha de obras superfaturadas no projeto ou aditivadas depois. Os empreiteiros tinham um excelente controle desses dinheiros, para saber o que iria, por exemplo, para deputados do PT ou para deputados do DEM.

O dinheiro para os petistas, carimbados sumariamente como corruptos, seria o dinheiro sujo. Já o dinheiro para os deputados do DEM, extremamente honestos desde os tempos do PFL e do ACM, seria o dinheiro limpo.

Os competentes tesoureiros das empreiteiras sabiam de onde saía cada dinheiro. Você também acredita que os investigadores desses delitos sabem, entre dois dinheiros doados, que um dinheiro é de atividade limpa e o outro de atividade suja?

E que de um lado estão os políticos anjos, porque receberam pouco dinheiro (e limpo) dos empreiteiros, e de outro os políticos diabos, contemplados com muito dinheiro (e sujo).

Pois aguardem e confrontem as duas listas. Uma, a da Operação Lava-Jato, das doações podres, e a outra, da Lava-Lento, das doações puras. A segunda lista circula há dias por aí e tem gente da CPI da Petrobras de tudo que é partido. A outra depende agora da liberação, pelo Supremo, dos nomes que o procurador-geral pôs sob suspeita.

Essa separação do dinheiro sujo e do dinheiro limpo, como quem separa lixo orgânico e lixo seco, é a grande contribuição dos empreiteiros à gestão honesta das doações aos políticos. A Justiça saberá reconhecer esse esforço moralizador?


Só espero que, com tanto cinismo, eu não seja visto como o único cínico.

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