quinta-feira, 5 de março de 2015


05 de março de 2015 | N° 18092
EDITORIAL ZH

A GUERRA SUJA DA POLÍTICA

Só haverá final feliz para mais esse caso rumoroso de corrupção se as instituições se mantiverem íntegras e cumprirem com as suas atribuições.

Tão logo soube que seu nome estaria na lista de políticos beneficiados pela corrupção investigada pela Operação Lava-Jato, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou-se contra o governo, do qual até então era aliado, numa evidente tentativa de desviar a atenção do público e de fragilizar o Executivo.

Apesar de ardilosa, a ação do parlamentar ganhou imediato apoio de oposicionistas, que até então o combatiam, evidenciando o pragmatismo perverso de quem visa mais ao poder do que ao interesse público. Nesse clima de confronto, não é improvável que também o governo, enrolado na própria incompetência, tenha procurado transferir pelo menos parte dos efeitos da operação para o Legislativo. Os brasileiros em geral só podem se sentir desamparados ao presenciar suas principais lideranças políticas envolvidas numa guerra particular e desleal.

Mais uma vez, como já havia ocorrido no episódio do mensalão, esse é um momento de reflexão e de desafio para os brasileiros. O elevado custo a ser pago por todos só terá sentido se, ao final, o país se mostrar capaz de vencer as barreiras impostas pelo poder econômico, por conluios políticos como os já evidenciados no Congresso e no Planalto e pelas limitações do Judiciário, em suas instâncias máximas, para enfrentar uma investigação desse porte.

Entre as 54 pessoas relacionadas em 28 pedidos de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), estaria o próprio comando do Congresso, além de outros poderosos. A possibilidade torna mais urgente a decisão sobre o fim do sigilo no caso, para evitar prejuízos ainda maiores para o país por conta de especulações e de desvirtuamento do jogo político.

O gesto do presidente do Congresso de devolver ao Planalto uma peça-chave do ajuste fiscal – medida provisória que volta a onerar a folha salarial das empresas – dá uma ideia das consequências que podem vir pela frente. Não há nem nunca houve qualquer razão para se promoverem mudanças desse tipo por meio de medida provisória. A conscientização sobre esse aspecto, porém, não pode ocorrer por conta de ressentimentos políticos.



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