Quanto você pagaria por um abraço de
conchinha com George Clooney ou Scarlett Johansson?
Uma
ex-personal trainer do Oregon cobra 60 dólares por hora
Renata
Honorato - Divulgação/Cuddle Up To Me
Samantha
Hess e um cliente durante uma sessão de abraço de conchinha em Portland, nos
Estados Unidos (Divulgação/Cuddle Up To Me/VEJA)
Abraçar
alguém é, à primeira vista, um ato de generosidade. Nos Estados Unidos, porém,
há gente que faz disso um negócio. É o caso do site Cuddle Up To Me, de
Samantha Hess, uma ex-personal trainer de 30 anos. Depois de sofrer com o fim
de um namoro e assistir a um vídeo de um comediante vendendo abraços em uma praça,
ela decidiu transformar calor humano em dinheiro. Deu certo. Ao oferecer "pacotes"
de uma hora de abraço de conchinha (cuddle, em inglês, aliás) por 60 dólares,
ela fatura mais de 7.000 dólares por mês — isso inclui abraços, treinamento
para futuros "profissionais" e a venda de exemplares de seu livro.
"É como manter um contato próximo com uma pessoa sem estar saindo com ela",
diz.
Samantha
afirma que a venda de abraço não tem conotação sexual. "Se alguém procura
sexo ao contratar o Cuddle Up To Me, certamente ficará desapontado." Para
evitar problemas, ela disponibiliza em seu site as "políticas de uso",
normas que devem ser seguidas antes de fechar o negócio. Isso inclui regras de
higiene. Samantha sempre pede aos seus clientes que escovem os dentes, tomem
banho, lavem o cabelo, usem perfumes leves e, é claro, vistam roupas limpas
antes de encontrá-la ou recebê-la em casa.
Os
potenciais clientes também passam por uma entrevista prévia, por e-mail, e por
uma pequena investigação, pela qual Samantha tenta afastar criminosos, por
exemplo. Em seguida, ela marca uma conversa pessoalmente em algum lugar público.
Se ambos se sentirem confortáveis, é marcado horário e local do grande dia. O
abraço de conchinha pode acontecer na casa do cliente ou em um parque, por
exemplo. Por ora, Samantha atende a clientela de Portland, cidade de Oregon,
mas é possível fechar acordos especiais em outros Estados americanos.
Talvez
Samantha não tivesse clientes entre brasileiros, pródigos na distribuição de
beijos e abraços. Entre os americanos, contudo, os abraços são garantia de o que
cliente é amado e aceito, aposta a "abraçadora". É comum, por
exemplo, que deficientes físicos ou pessoas muito tímidas procurem seus serviços.
"Eu gosto de chamar o meu serviço de massagem para a mente. Meu objetivo é
fazer com que meus clientes se sintam parte da minha família e renovados após
uma sessão", diz. Em tese, a terapia de Samantha não é reconhecida pela
comunidade médica.
Outro
americano, Steve Maher, de Los Angeles, oferece serviço similar: com ele, o
abraço é premium. Ele é dono do site The Ecstatic Embrace, que cobra 120 dólares
por uma sessão de 90 minutos. Do outro lado do planeta, no Japão, existem os
chamados kyabakuras, estabelecimentos em que os clientes tomam drinks enquanto
são mimados por garotas bonitas — relações sexuais são proibidas. Algumas histórias
já chegaram ao cinema, com sexo. Em As Sessões, do diretor Ben Lewin, a
personagem Cheryl Cohen Greene é uma "sexual surrogate", alguém que
faz sexo com seus pacientes sem envolvimento romântico. O filme é inspirado em
uma história real.
Na
entrevista a seguir, Samantha Hess fala ao site de VEJA sobre o negócio do abraço
de conchinha:
Vender
abraços é uma atividade inusitada. Como descobriu esse nicho e decidiu
transformar o abraço em negócio? Isso faz parte da minha personalidade. É uma
maneira de manter contato físico com alguém mesmo sem me envolver
emocionalmente com essa pessoa. Olhei ao meu redor, percebi que tinha muitos
amigos, mas ainda assim sentia falta de alguma coisa. Um dia, vi um vídeo de um
comediante que oferecia abraços por dois dólares em uma feira. Foi aí que
pensei: "Eu posso fazer isso!"
E as
pessoas encaram com naturalidade a sua profissão? Algumas pessoas ficam
curiosas sobre o meu trabalho, mas a maioria delas encara a ideia como um serviço
real e disponível a todos. Entre meus clientes estão jovens, velhos,
talentosos, altos, magros, baixos. Eles são operários, prestadores de serviços,
CEOs, desempregados, homens e mulheres, gente de todo o tipo. Os mais jovens têm
aproximadamente 20 anos e os mais velhos, 70 anos.
O
que eles buscam ao contratá-la? Todos têm a necessidade de se sentir amados e
aceitos. Eu ofereço um serviço totalmente voltado ao cliente, então eles não têm
que se preocupar comigo. É diferente de um relacionamento, porque às vezes as
pessoas não estão preparadas para sair com alguém. Os clientes só precisam
aproveitar o momento (risos).
Quantas
pessoas já contrataram seus serviços desde junho de 2013, quando você começou a
trabalhar com isso? Já atendi centenas de pessoas.
Você
ganha dinheiro suficiente para levar a vida somente abraçando pessoas? Essa é a
minha única atividade e é com esse trabalho que levo a vida. Em abril, lancei
um livro, Touch: The Power of Human Connection (Toque: o poder da conexão
humana), que também rende alguma receita.
Divulgação/VEJALivro 'Touch: The
Power of Human Connection'
Sobre
o que fala o livro? Decidi escrever o livro porque recebo milhares de e-mails
todas as semanas, especialmente quando apareço nas publicações aqui nos Estados
Unidos.
Muitas
pessoas queriam saber mais sobre a minha história e por que decidi trabalhar
com isso. Meu livro aborda um pouco da psicologia por trás do toque, casos de
pessoas que contrataram meus serviços, além de 19 dicas de posições que tornam
o abraço mais confortável.
Algum
cliente já achou que você fosse uma garota de programa? Há algumas regras de
segurança que devem ser seguidas. Antes de fechar um contrato, a pessoa entra
em contato comigo e trocamos alguns e-mails. No meu site há regras que qualquer
pessoa pode baixar e ler. Depois, agendamos um encontro em um lugar público
para que eu possa entender por que a pessoa deseja contratar meus serviços. A
ideia é identificar qualquer sinal de alerta.
Se a
pessoa estiver em busca de serviços sexuais, ela certamente não ficará contente
com a minha proposta. Se tudo der certo, o contrato é assinado e então eu peço
uma cópia de um documento de identificação. Todas as informações, além do local
do encontro para a sessão, são encaminhadas para uma terceira pessoa. Trata-se
de uma forma de zelar pela minha segurança.
Você
toma algum cuidado adicional? Fiz aulas de defesa pessoal. Também carrego
comigo uma arma não letal.
Você
mora em Portland. Existem planos de oferecer seus serviços em outras cidades?
Abrimos uma loja física em Portland para que as pessoas conheçam o serviço. Nesse
espaço oferecemos um programa de treinamento de 40 horas para interessados em
aprender as técnicas do abraço. A ideia é criar centros de treinamento em
diferentes países e abrir "lojas" em todo o mundo.
O
que é ensinado nesse curso? Você é a professora? Eu sou a professora. Ensinamos
técnicas de como tocar outra pessoa e quais as melhores posições para o abraço.
Também temos aulas de marketing, desenvolvimento web e todo e qualquer assunto
relacionado ao negócio.
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