sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Jaime Cimenti

E palavras...

É fácil chegar ao Bar Essencial. De Porto Alegre, tome a BR-116. Em São Leopoldo, pegue a estrada para Portão, por baixo do viaduto. Atenção: ande pela direita, senão você passa por cima e aí o retorno é longe. Cento e poucos quilômetros depois, entre no Vale dos Vinhedos, em Bento. Escale os lindos morros e colinas que parecem partes da anatomia feminina, passe pelos vales verdejantes e, pouco depois, a 645 metros de altitude, estará no elegante município de Monte de Belo do Sul, que nem precisava se desligar, em 1992, da poderosa, simpaticíssima e universal Bento Gonçalves.

Antes de conhecer o Bar Essencial, que não tem placa na frente e que batizei agora, dê uma olhada na Igreja Matriz São Francisco de Assis, reze e exercite o seu lado sagrado. Vale a pena. Até São Francisco de Assis permitiu uma construção maravilhosa daquelas. Caminhe uns 100 metros pela rua Sagrada Família. Ao lado do supermercado, entre no prédio. Ali é o bar Essencial, do seu Raul e dona Elza Canton, filha do seu Ermelindo Zaffari, que comprou o bar em 1954 do seu Julio Procedi.

Entre e, sem excessos, exerça seu lado profano. Há salgadinhos, biscoitos, bebidas, paçoquinha, rapadura, amendoim, chocolates, maria-mole, bala de goma e, principalmente, mandolate caseiro, delicioso. Não peça barra de cereal, sanduíche, almoço ou janta que não tem e nem vai ter.  

Nas mesas com limpos tampos de fórmica, dispostas sobre um piso bem encerado, parecendo um espelho, senhores costumam jogar cartas: pif, pontinho, canastra, escova e, claro, quatrilho. Tomam alguma coisa, não ficam com rostos muito vermelhos e nem mexendo muito em celulares. O aparelho de TV LCD permanece desligado a maior parte do tempo, e não tem wifi por ali. Numa das paredes há samambaias.

Os compadres, ao menos quando eu estive lá, não discutiam ou brigavam sobre política, religião, negócios, mulheres e futebol. Curtiam a companhia e o silêncio cômodo dos grandes amigos, enquanto o tempo passava sem a menor pressa, marcado pelo badalar dos sinos da Matriz, em frente à Praça Padre José Ferlin. Praça onde estão o posto da Brigada e a Delegacia de Polícia, para algum imprevisto. Vá lá no Bar Essencial, mesmo sem sentar, tomar uma cervejinha ou jogar cartas. Não deixe de comprar os mandolates.

Converse com o seu Raul, que foi motorista de caminhão no Nordeste, e com a sorridente dona Elza. Garanto que você vai se sentir em casa. Talvez numa casa antiga, daquelas com retratões de avôs nas paredes, famílias grandes, cheirinho bom de comida e limpeza. Ah, e imagens de santos nas paredes e sobre os móveis.


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