Folha
- 17/08/2014 02h00
O PR-AFA de Eduardo Campos acertou
Dilma
A
conta é simples: em agosto do ano passado, antes de ter o registro de seu Rede
negado pelo Tribunal Superior Eleitoral, Marina Silva tinha 26% das intenções
de voto na pesquisa do Datafolha. Tendo-se abrigado no PSB, acabou numa chapa
que era encabeçada por Eduardo Campos. Há um mês, tinham 8%.
Os
números de uma nova pesquisa do Datafolha estarão nas ruas nos próximos dias.
Partindo-se dos 8%, somando-se o efeito da comoção provocada pelo acidente do
jatinho PR-AFA, ela poderá surpreender. Para que Dilma saia incólume, qualquer
ponto percentual que vá para Marina precisará sair do acervo de Aécio Neves, e
essa hipótese é absurda. Dilma certamente perde quando fortalece-se a possibilidade
de um segundo turno. Se Aécio Neves perde algo com a nova situação, é uma
dúvida.
Manejando-se
apenas percentagens vai-se a lugar nenhum. Falta saber o que Marina proporá
para transformar preferências em votos. No primeiro turno de 2010 ela teve
cerca de 20 milhões de votos (19,33%). Até agora, o programa de sua chapa foi
ralo e confuso. Fala em "eixos programáticos", "brasileiros
socialistas e sustentabilistas", "borda de desfavorecidos",
"democracia de alta intensidade", em "ampliar a dimensão dos
controles ex post frente à primazia dos controles ex ante". Propõe
plebiscitos e "um novo Estado". Isso pode dar em qualquer coisa.
Com
dois minutos no programa eleitoral gratuito contra 11 de Dilma e quatro de
Aécio Neves, só as redes sociais e a internet poderão socorrê-la. Tomara que
isso aconteça e que ela ponha carne no feijão. A ideia de uma candidata a líder
espiritual reconforta o eleitor desencantado com a polaridade PSDB-PT, com seus
mensalões mineiro e federal. Para o primeiro turno isso é um bálsamo. Para o
segundo, uma aventura.
TIRO
NA DOUTORA
Na
quinta-feira o presidente do PSB, Roberto Amaral, anunciou que o partido só
decidiria a substituição de Eduardo Campos depois do seu sepultamento.
O
PSB é soberano, mas, se alguém no Palácio do Planalto acreditou que,
derrubando-se Marina Silva dentro da grande área ajuda-se a doutora Dilma,
enganou-se.
O
efeito da jogada seria um pênalti contra a meta de Dilma. Quem derruba jogador
sempre espera que o juiz não veja o lance. No caso, os juízes serão os
eleitores, sobretudo os indecisos ou parte daqueles que pensavam em anular o
voto.
DILMÊS
Levando
um texto escrito e falando da tribuna do Palácio do Planalto, a doutora Dilma
tratou do desaparecimento de Eduardo Campos e disse o seguinte:
"Uma
morte tirou a vida de um jovem político promissor".
JOSÉ
DIRCEU
Pelas
suas contas, o comissário José Dirceu acredita que em outubro deixará o regime
semiaberto, dormindo em casa.
Felizmente,
tanto ele como José Genoino abandonaram o comportamento teatral que exibiram no
dia em que se apresentaram à prisão. Ambos de punho cerrado, e Genoino envolto
numa cortina que servia-lhe de manto para sabe-se lá o quê.
FRITURA
DE OBAMA
Outro
dia Hillary Clinton deu uma entrevista atirando na testa do companheiro Barack
Obama.
O
casal Clinton mostrou que pretende esfolá-lo. Se Hillary acerta nas testas,
Bill corta jugulares. Em novembro realizam-se eleições parlamentares e tudo
indica que os republicanos mantêm a maioria na Câmara e arriscam levar também o
Senado.
Os
Clinton querem distância desse legado.
BOMBAS
ATÔMICAS
Começou
a contagem regressiva para os 70 anos das manhãs em que os Estados Unidos
jogaram duas bombas atômicas sobre duas cidades japonesas, em agosto de 1945.
É
uma grande história diplomática, industrial, tecnológica e militar. Está na
rede o livro "Hiroshima Nagasaki - The Real Story of the Atomic
Bombings" ("A História Real dos Bombardeios Atômicos"), do
jornalista australiano Paul Ham. Sai por US$ 16,99. Cada aspecto da carnificina
vale um livro, mas Ham conseguiu juntar todos num só. Era um tempo em que o
presidente da Dupont relutava em participar da produção da bomba. Tendo
aceitado construir a usina que produziria o plutônio que explodiu em Nagasaki,
estabeleceu que a empresa não ganharia um tostão com isso.
Narrativa
emocionante, sustenta que o uso das bombas em cima de duas cidades foi uma
demasia. Coisas da vida. Passados 70 anos, muita gente pensa assim. Em 1945
ocorria o contrário, e a tardia rendição do Japão foi festejada em todo o
mundo.
RECORDAR
É VIVER
Rompimentos
e alianças políticas são coisas fugazes, mas Eduardo Campos, falando da sala em
que seu avô recebeu os militares que o prenderam no dia 1º de abril de 1964,
informou a Lula que não pretendia mais ter relações políticas com ele.
ESPIRAL
O
ministro Ricardo Lewandowski assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal
e imediatamente vestiu o manto de presidente do sindicato dos magistrados.
Defendeu
um aumento salarial para os juízes usando uma expressão capaz de assombrar Lula
e a doutora Dilma. Segundo ele, há no Brasil uma "espiral
inflacionária".
VIERALVES,
O VANDERBILT DA UERJ
Em
plena campanha eleitoral, caiu em cima da candidata a deputada federal Benedita
da Silva a denúncia de que em 2010 dois de seus filhos, funcionários da Câmara
Municipal desde 1987, foram pendurados na folha de pagamento da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro. Faturaram R$ 143 mil.
À
primeira vista, isso faz parte do tiroteio da campanha. Olhando-se bem, há
meses a comissária Benedita, seus dois filhos e mais o reitor da Uerj,
companheiro Ricardo Vieiralves de Castro, sabiam que estavam encrencados. O
caso estourou agora porque não foi esclarecido direito enquanto era investigado
pelo Ministério Público.
Os
dois filhos da deputada ficaram lotados no gabinete de Vieiralves. Diligências
revelaram que eles lá não iam e em seus depoimentos deram explicações
contraditórias a respeito de serviço que faziam. Os dois, mais Vieralves,
tornaram-se réus na 1ª Vara da Fazenda Pública, acusados de improbidade
administrativa. Benedita, não.
Filhos
de maganos pendurando-se em Câmaras Municipais e transferindo-se para outras
paragens são costumes antigos. Quando esse abrigo é uma universidade, dá pena.
Quando nela é o gabinete do reitor, dá raiva. Desde que o processo foi aberto a
Uerj manteve solene silêncio.
Em
busca da posição da universidade, no dia 12 os repórteres Cassio Bruno e Fábio
Vasconcelos enviaram-lhe uma mensagem com perguntas. Passados dois dias depois,
Vieiralves não se dignara a responder. O doutor pegou a linha de Alice
Vanderbilt, a milionária americana que entrou no carro, disse o nome da dona da
casa onde ia jantar, percebeu que o motorista tomou um caminho errado, mas
ficou calada. Ela não falava com criados. Com uma diferença, madame Vanderbilt
cuidava do dinheiro dela. Vieralves mexeu com dinheiro da Viúva.
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