31
de agosto de 2014 | N° 17908
FABRÍCIO
CARPINEJAR
O enigma da bolsa das
mulheres
Homem
carregando bolsa de mulher é cavalheirismo ou o cúmulo da submissão?
Eu
fico sempre baratinado. Costumo
carregar a bolsa de minha esposa no shopping quando leva minha carteira e algum
livro. Eu me vejo culpado pelo peso extra.
Mesmo
quando não sou beneficiado diretamente, bate uma compaixão em vê-la se esforçar
com os ombros. Ela trocará de braço a cada dois quilômetros na esteira das
lojas.
Toda
bolsa de mulher é uma mala sem rodinhas. Mas
tampouco entendo por que ela não faz uma limpeza pontual para aliviar o chumbo.
Não
tem sentido dispor de um secador de cabelos, por exemplo, naquele passeio. Ou
tem? Ou ela acredita que será disparado um alarme de incêndio acionando as
mangueiras do teto em nossa cabeça? Será que ela pensa nisso (é de dar medo se
prevê a vida com tanto engenho e longevidade)?
Não
custaria nada, antes de sair, eliminar o que não é essencial. E
não é que ela esqueceu o que havia dentro da bolsa, mulher somente faz faxina
na bolsa quando adquire uma bolsa nova.
Enquanto
usa, acumula o mundo em suas profundezas de couro. É sua impressora 3D, imprime
objetos na hora. Não
acho correto o trabalho masculino, pois ela poderia ter sido mais econômica.
Deveria aprender a lição arcando com as consequências.
Até
porque o homem que aceita transportar a bolsa da mulher não será valorizado por
nenhuma estranha no caminho. É
muita submissão. Ele se apagará para ser um caddie – carregador de tacos de
golfe.
Ninguém
repara no caddie, apenas no golfista. O caddie desaparece nas corcovas do
gramado.
Além
da invisibilidade imediata para a concorrência, não nos vestimos para combinar
com a bolsa dela. De repente, estaremos de azul marinho com uma bolsa marrom. É
o fim da harmonia. Então, teríamos que mergulhar de vez na vassalagem e
perguntar para a mulher qual bolsa pretende colocar para definirmos nosso
figurino.
–
Amor, tenho que me vestir, já escolheu a bolsa?
E
também não é justo carregar algo em que não poderemos mexer. Jamais deixará que
a gente pegue coisa alguma de dentro do seu conteúdo. Somos menores de idade
diante de qualquer bolsa feminina.
Vejo
que não permite a ação de nossa curiosidade para evitar o estresse dos
interrogatórios. Questionaremos o motivo de ela estar com metade das tralhas. A
conversa não desembocaria em nenhum acordo. O que é dispensável para o homem é
fundamental para a mulher.
Entro
em parafuso se é correto ou não fazer esta gentileza. Seremos
favorecidos, por outro lado, com o acervo surpreendente. A bolsa é um pequeno
ambulatório, é um toalete ambulante, é uma oficina de costura.
Sem
papel higiênico no banheiro, onde encontrará um rolo salvador? Na bolsa dela!Na
primeira pontada de uma enxaqueca, onde encontrará o medicamento redentor? Na
bolsa dela!
Descosturou
a camisa, onde achará linha e agulha? Na bolsa dela!Somando
os prós e os contras, o problema existencial resultará num empate.
Como
voto de minerva, sugiro não carregar a bolsa, porém realizar um curso de
massagem para aliviar as dores nas costas de sua esposa.
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